Difícil é definir um homem tão polifacetado e de tão longa vida como o galego Isaac Díaz Pardo, que ontem foi enterrado na sua cidade natal, Santiago de Compostela. Artista plástico, pintor, ceramista, empresário, fundador do Grupo Sargadelos, editor, fundador das Ediciós do Castro, era até o dia de ontem em que morreu a figura que melhor representava a fidelidade ao legado dos nacionalistas históricos das Irmandades da Fala entre os que cresceu. No atelier do seu pai, o pintor Camilo Díaz Balinho, conheceu os vultos mais notáveis da Galiza da IIª República. Colaborou sendo ainda muito jovem na campanha pelo Estatuto de Autonomia em 1936. O que estava chamado a ser um verão de esperanças seria para ele, como para toda a sua geração, o mais trágico da sua vida. Nos dias posteriores ao golpe de estado o seu pai é assassinado, junto a uma grande parte da inteletualidade galeguista. Isaac vive meses escondido em casa do seu tio Indalécio na cidade da Crunha. Nos longos anos do pós-guerra dedica todo o seu esforço por manter vivo o ideário dos galeguistas e lutar, por todos os meios, por uma Galiza culta e dona dos seus destinos. Nos treze anos que viveu na diáspora de Buenos Aires manteve uma forte amizade e colaboração com o pintor e escritor Luís Seoane e conviveu com muitos outros exiliados galegos. Foi então quando nasceram as suas principais empresas: as Cerâmicas do Castro, o Laboratório de Formas, o Museu de Arte Moderna Carlos Maside e as Ediciós do Castro. Em esta editorial começou a encontrar a sua voz grande parte da memória soterrada dos mártires e dos exiliados galegos, com um extenso fundo de obras documentais sobre a Galiza do século XX. No que diz respeito à língua, Isaac manteve-se fiel ao pensamento dos galeguistas do pré-guerra, mostrando-se crítico nos últimos anos com a política linguística seguida desde as instituições galegas. “Os homens que sonharam e reivindicaram a personalidade histórica da Galiza, e por tal padeceram a história, procuravam, sem beatarias, descastelhanizar o galego e aproximá-lo da sua origem, na qual ele possa encontrar-se com o seu irmão o português”. (Isaac Díaz Pardo e a língua, 2008). Brilha hoje já a luz de este homem humilde e trabalhador na constelação da Santa Companha dos imortais galegos que louvara Castelão na sua Alva de Glória em 1948. “Só as cousas que têm raízes são as que têm possibilidade de sustentar-se no futuro”, dizia Isaac. Obrigada, mestre, pela sua semente.
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