Vivemos um momento muito especial da Historia mundial. Nesse sentido, somos privilegiados porque é uma sorte rara assistir ao momento da queda de Roma. Mas é uma sorte aziaga porque estamos precisamente no centro da queda dessa tentativa gorada de reconstrução do Império Romano que conhecemos hoje sob a designação de “União Europeia”.
Com efeito, o edifício da construção europeia abre rachas por todo o lado: pressionada pelos economistas neoliberais e pelos interesses financeiros que se arrogavam à posse do Pensamento Único, a Europa permitiu que as suas fronteiras se abrissem às importações chinesas enquanto a sua industria se evaporava a caminho das mesmas paragens. Deixou enredar-se numa teia impossível em que deixava de produzir, aceitava estagnar os rendimentos dos europeus em troca de Divida, que parecia barata, e que permitia ir mascarando um empobrecimento crescente do tecido produtivo europeu enquanto se iam comprando os produtos da “fabrica do mundo”.
Obviamente, este sistema Divida-Importacoes não podia ser eterno. Chegou-se a um ponto em que os credores se aperceberam de que era impassível que os devedores não podiam pagar os seus creditos e começaram a impor-lhes um “prémio de risco”, sob a forma de juros, crescente e, finalmente, insuportável. A prazo, estão ambos condenados: credores e devedores. Uns porque não receberão o seu dinheiro, os outros porque não o teem para pagar.
A maior parte da Divida europeia está nas mãos de Bancos europeus, pelo que serão estes os principais alvos, logo que um dos países na linha da frente (Portugal, Grécia e Irlanda) falhar os pagamentos do serviço da divida. Mas basta um falhar, para que a segunda linha entre também em incumprimento, porque perante tal evidencia, os credores vão aumentar o seu prémio de risco para os empréstimos dessa segunda linha (Espanha, Itália e Bélgica) tornando o seu serviço da divida, impagável também ele. E não há dinheiro nos cofres do mundo que baste para “salvar” uma economia da escala destes três, pelo que há primeira falha de pagamentos, teremos quase imediatamente uma declaração total de bancarrota.
Uma europa em bancarrota financeira será uma europa morta porque esta foi uma “europa” que se construiu em torno de pilares económicos (fundos, PAC, união aduaneira e liberdade de circulação) e financeiros (UEM e Euro). Se estes pilares tombarem, tomba com eles o edifício da construção europeia, já que este nunca procurou forjar uma estrutura “nacional” ou “transpatriótica” que lhe permitisse sobreviver a uma grave crise económica como a atual.
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