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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Caminhos e Sinais de Esperança

A Crise Atual

Só pode ser qualificado com iníquo um sistema económico que, com a regularidade que a História documenta, gera tantos problemas sociais, pessoais, familiares e ecológicos, como são aqueles que em Portugal e em todo o mundo marcam a atualidade do viver dos povos. Foi assim, de fato, há cerca de oitenta anos, com a tremenda crise económica e financeira dos anos trinta, que tantos dramas individuais e sociais criou e que só seria ultrapassada, queiramo-lo ou não, com a calamitosa Segunda Guerra Mundial e com a reconstrução europeia que se lhe seguiu. E, depois dos eufóricos «Trinta anos Gloriosos» de crescimento e de consumo sem precedentes vivenciados pelo Ocidente entre 1945 e meados dos anos setenta, eis que, embora sem a amplitude e sem o grau de gravidade da crise de 1929 e da atual, de novo as crises voltaram nos anos das décadas de 1980 e de 1990, até chegarmos à calamidade atual. Pode parecer retórica, quiçá ingénua, esta pergunta: que sistema económico é este e qual a sua racionalidade que está na origem de tantas e tão graves crises e de tantos dramas pessoais, familiares e individuais e que, ao mesmo tempo, está também na origem das calamidades ecológicas que ameaçam definitivamente o Planeta? Será ingénua a pergunta, mas nem por isso deve deixar de ser feita. É que, quando os humanos deixam de se interrogar, de questionar, de investigar a verdade, deixam realmente de ser verdadeiramente homens.


Uma crise sistémica
A crise que atravessamos é planetária e não apenas uma crise portuguesa ou europeia. Ela é sem dúvida uma profunda crise económica e financeira, com gravíssimas consequências sociais, gerando crescentes ondas de desemprego, agravando a pobreza e acentuando as desigualdades sociais e a exclusão. Mas, queiramo-lo ou não, esta crise é muito mais do que isso. Ela atinge, pela sua natureza, pela sua complexidade e pelas suas dimensões, os próprios fundamentos da civilização em que temos vivido nos últimos séculos. É redutor, muito redutor mesmo, circunscrevê-la às dimensões ou vertentes económica e financeira, pese embora a importância destes fatores. Tão pouco podemos caraterizá-la como uma mera crise conjuntural ou estrutural, que seria ultrapassada com um conjunto de medidas do tipo «mais do mesmo». Trata-se, no meu modo de ver, de uma crise sistémica ou, se quisermos, civilizacional. Ela toca no fundo das nossas crenças imanentes que datam de há alguns séculos: a crença no valor do progresso material ininterrupto, potenciado e garantido pela ciência e pela tecnologia; a fé cega na «prosperidade» entendida como mera posse de bens materiais e abundância crescente e infinita; aceitação acrítica do conceito de riqueza; uma visão da natureza entendida como o «outro do homem», que importa dominar e explorar, já que nada mais é do que um mero fundo ou "stock" de recursos infinitos e inesgotáveis que, mediante o trabalho abstrato e alienado, assessorado pela técnica ou assessorando a técnica, proporciona aos humanos a tal "riqueza", a tal "prosperidade", a tal abundância dos amanhãs que cantam...

Crise sistémica, pois. E enquanto vamos, temos mesmo que ir todos, atalhando conforme podemos às situações de crescente emergência à nossa volta, não nos desviemos um milímetro da consideração desta crise sistémica, pois é ela que, pela sua necessária e evidente complexidade, vai condicionar, talvez mesmo inviabilizar, as medidas que, sendo mais do mesmo, isto é, tomadas no âmbito de um conjunto de pressupostos ou crenças - acima enunciados - que configuram o paradigma civilizacional em que vivemos, estão em preparação por parte dos «senhores do mundo».
Diria que além de económica, financeira e social, a crise é também a crise do modelo político que tem governado os povos, o qual coloca em risco a democracia e os valores intrínsecos que esta comporta e que devemos cultivar e fazer prevalecer. Neste ponto, chamo a atenção para a secundarização da política face aos imperialismos do económico, sintoma da doença do materialismo atroz que tudo assoberba e que deriva precisamente das tais crenças imanentes acima referidas. Com efeito, em vez de uma economia incrustada ou engastada na sociedade, como o rubi se incrusta no anel e não o contrário, e conduzida sob a égide da política e orientada para a prossecução do bem comum e não apenas para o chamado «interesse geral» que, de tão geral que sempre é, acaba sempre por se reduzir ao mero somatório dos «interesses individuais», uma equação que na prática redunda sempre no benefício quase exclusivo dos mais fortes, em vez disso vemos a subordinação da política aos interesses económicos, arrastando consigo a desagregação social que a procura de um bem comum lucidamente prosseguido evitaria. Registe-se aqui a urgência de um Filosofia Política que, a meu ver, careceria de enfrentar a tarefa de uma conciliação entre os interesses do indivíduo e o bem comum definido e praticado em nome dos interesses da comunidade.
Mas a crise é também uma crise ecológica muito grave e cujos sinais, que é preciso captar e interpretar corretamente e com humildade, já estão à vista de todos nós. Creio que esta crise ecológica, que não se resume aos índices de poluição e à crise climática mas atinge já a capacidade de carga do Planeta, vai condicionar, quiçá inviabilizar, as medidas que estão em preparação pelos «senhores do mundo». Atente-se, a este propósito, nos problemas que, a breve prazo, serão levantados pela crise da produção de petróleo. Sabendo nós que o sistema capitalista é voraz em recursos naturais, cumpre-nos questionar se, atendendo à finitude física e do fundo ou "stock" de recursos, energéticos e materiais, do Planeta, podemos continuar a apostar em índices de crescimento elevados, os quais, além de não eliminarem, antes pelo contrário, as desigualdades sociais, agravam, quiçá sem remédio, os desequilíbrios ecológicos, com prejuízo para as gerações atuais e para as vindouras. Registe-se aqui a urgência, no plano filosófico e cultural, de uma profunda revisão e mudança paradigmática e de comportamentos nas relações entre o Homem e a Natureza, apelando, nomeadamente, para o «princípio responsabilidade» formulado pelo filósofo Hans Jonas.
Por fim, a crise atual traduz-se numa profunda crise de sentido para os indivíduos, para as comunidades primárias como a família e também para os povos. Aqui, os sinais são por demais evidentes e decorrem do estilhaçar de muitas das apostas do homem moderno. É evidente que não podemos pôr em causa conquistas e aquisições fundamentais da modernidade. Mas, há que pôr o dedo numa das feridas mais fundas que talvez ajude a perceber e a compreender esta crise de sentido em que vamos vogando. Refiro-me ao verdadeiro corte operado pelo homem moderno com a transcendência e ao consequente investimento absoluto nos valores prometidos pela imanência. Na verdade, o homem, a começar pelo homem ocidental, investiu todas as suas energias na crença cega, unidimensional e acrítica, no progresso material sem fim, na procura louca e demencial da felicidade encontrada exclusivamente na posse de bens e da abundância sem limites, alicerçando essa crença nas potências prometaicas da ciência e da técnica, vistas cada vez mais como meras «forças produtivas» e no voltar de costas aos outros seres, vegetais e animais, reduzindo-os a meros «instrumentos» da nossa insaciável fome de "riqueza". Por fim, e como corolário lógico e quase necessário desta vertigem, eis o homem reduzido aos imperativos e aos comandos de uma «Razão Instrumental» que o torna num joguete das forças dominantes e das leis do mercado.
Aquele corte unidimensional operado pelo homem moderno teve como efeito o esvaziar do indivíduo daquelas dimensões que fazem dele um ser dotado de transcendência e para o qual deve ser orientada a vida social, política e económica. Acreditámos piamente que era possível criar um «homem novo», seja através de uma «engenharia» político-social inspirada no materialismo histórico, seja através dos poderes, que reputámos quase divinos, da ciência e da técnica. Daí à «fabricação do humano» pela biotecnologia, como denunciou o filósofo alemão Martin Heidegger, o passo não é assim tão gigante quanto isso.
Veja-se, por exemplo, como, nos nossos dias, toda a educação, desde os níveis básico ao superior, está pautada pelo economicismo, funcionalizando os currículos às "competências" e estas à economia, fruto de decisões e de opções «macro» orientadas para o privilégio conferido às matemáticas e às tecnologias, subalternizando as artes e a poesia, a literatura e a música e a formação de um pensamento crítico tão necessário para fazer frente aos imperativos da tal «Razão Instrumental». Assim sendo, como não desembocar nesta «crise de sentido» que até já às nossas crianças e adolescentes atinge? Atentemos nas doenças depressivas e na onda de suicídios que alastra por toda a Europa, pela América e pelo Japão. Olhemos com «olhos de ver» o recurso cada vez mais assíduo às consultas psiquiátricas, o aumento exponencial do consumo de drogas, que já faz carreira, dizem-nos, entre adultos; saibamos interpretar estes «sinais dos tempos» e também aqueles que nos são deixados pela multidão de jovens que, desde a «geração do estágio» na Alemanha até à «geração Deolinda» portuguesa, gritam que não vêm perspetivas para as suas vidas. É muito por aqui que passa toda esta crise de sentido. É duro de constatar, mas não devemos ter medo da verdade.
É por isso que esta crise é sistémica e é também por isso que a sua saída já não se compadece com medidas do tipo «mais do mesmo». É possível, porém, vislumbrar nos nossos dias sinais e caminhos de esperança. E os maiores e os melhores desses sinais e desses caminhos residem no investimento de milhares de pessoas envolvidas em ondas de solidariedade.

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