Muitos projectos de promoção da língua portuguesa pecam por serem carregados de simbolismo e não serem pragmáticos, disse hoje em Lisboa o diretor executivo do Instituto das Nações Unidas para Formação e Pesquisa (UNITAR).
“Muitas vezes, os projectos de expansão ou de promoção da língua portuguesa pecam por serem projectos que estão carregados de simbolismo. Eles são simbólicos, não são pragmáticos”, declarou à Lusa Carlos Lopes.
O responsável das Nações Unidas falou à margem do Encontro Internacional Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas num Universo Globalizado, na Fundação Calouste Gulbenkian.
“Em termos pragmáticos, o projecto de transformar o português em língua oficial da ONU custaria 120 milhões de dólares por ano. Estes 120 milhões podem permitir a criação um programa de jovens funcionários (lusófonos), que existe para muitos países”, disse ainda Lopes.
Segundo o responsável da ONU, “pode-se ter 600 jovens funcionários que seriam enviados para vários organizações internacionais, que iriam criar muito mais espaço para a língua portuguesa”.
Estes jovens “iriam transformar completamente a presença do português, em vez ter os documentos do Conselho de Segurança em português, que ninguém vai usar”, acrescentou.
“Ocupar o púlpito para defender uma língua sempre trouxe benefícios políticos para os protagonistas, fazer algo pela mesma, é uma batalha inglória que arrecada poucos trunfos”, disse ainda.
Segundo Carlos Lopes, “não se mede a influência no sistema internacional só porque uma língua é oficial”.
O funcionário da ONU disse que o francês está cada vez a ser menos utilizado nas Nações Unidas e que o russo e o chinês são usados de forma “marginal”, sendo todas estas línguas oficiais na organização.
Carlos Lopes sublinhou a presença de lusófonos em postos chaves das instituições internacionais.
O responsável da UNITAR revelou que a preocupação com a língua é generalizado entre os países e que os meios de informação virtuais estão ser muito importantes na divulgação das línguas.
Para Carlos Lopes, os jovens são “agentes das novas formas de sociabilidade (redes sociais na Internet) e fazem crescer uma língua de forma exponencial”, considerando ainda que países com população mais idosa vão acabar por “perder este jogo”.
O português é a sexta língua mais utilizada na Internet, um “feito considerável” para Carlos Lopes.
Até 2050, o português pode subir para 4.º ou 3.º lugar neste ranking, mas “tudo depende dos incentivos para a criação de produção de conteúdos”.
O responsável da UNITAR declarou ainda a China está a apostar na expansão do mandarim como “fator de relacionamento com o mundo e o reconhecimento do país”.
A China fez acordos com 32 universidades africanas para a criação de Institutos Confúcio, que ensinam o mandarim como segunda língua.
Carlos Lopes também questionou de que servem as lamentações sobre a situação da língua portuguesa, que em geral estão associadas “à falta de visão política, às limitações da CPLP e à desgraça do IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa)”.
Fonte: Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário