Essa idéia nasceu da compra da “Revista do Brasil”,onde antes colaborava com seus artigos polêmicos,como “A Velha Praga”,condenando as constantes queimadas que grassavam nas fazendas de café com a desculpa da renovação do solo.
Pois,desta revista,acabou brotando a Cia.Editora Nacional que veio revolucionar o mercado editorial brasileiro,inexistente numa época onde todas as nossas grandes publicações eram feitas em Paris ou Lisboa.
Nacionalista ferrenho,Lobato,revoltou-se contra isto e contra a “panelinha” literária,onde só medalhões tinham acesso às publicações.
Levantou-se ,também,contra a “sacralidade “do livro,conforme pensavam os leitores,livreiros e escritores da época,que viam com horror de donzela,a necessidade de se vender como mercadoria esse objeto sagrado.
Lobato mostrou que o livro, sim,é um negócio como outro qualquer,que gera custos,logo ,tem que gerar receita,e apregoava aos quatro ventos:
-“Livro é sobremesa; tem que ser posto diante do nariz do freguês”, para horror dos puristas da época.
Acreditando nisto,e,ignorando solenemente as pedradas que recebeu toda a vida,na sua editora recusou-se a publicar medalhões e abriu caminho para novos autores desconhecidos como a Srª Leandro Dupré (Éramos seis),Osvaldo Orico,Pedro Calmon,Menotti dal Picchia,Oswald de Andrade, Paulo Setúbal e muitos outros,renovando a literatura nacional.
Mas,como vender?Esse era o busilis.
Que fez Lobato?
Criou uma rede de distribuição que se constituiu numa reviravolta editorial, introduzindo métodos práticos e funcionais; dirigindo-se ao Departamento de Correios e verificando a existência de mil e tantas agencias postais no pais, escreveu uma carta –circular a cada agente,pedindo a indicação de casas ou firmas que pudessem receber esta mercadoria chamada “ livro”.
Com muita surpresa viu que todas as agencias lhe responderam.
De imediato entrou em contato com comerciantes diversos perguntando-lhes se não quereriam aumentar seus lucros vendendo livros consignados,uma mercadoria como outra qualquer,batata,bacalhau ou querosene.
Logo,se não vendesse, o comerciante devolveria o produto cujo porte seria pago pela Editora.
Se os vendesse receberiam uma comissão de 30%.
E,enfático:-Responda se topa ou não topa.
Quase todos toparam. E Lobato passou de trinta e poucos vendedores anteriores,as livrarias,para cerca de mil e tantos postos de venda,lojas de ferragens,papelarias,farmácias,bazares etc.
As edições que não passavam de 400 exemplares subiram para três a quatro mil e os livros pululavam,às vezes,até seis lançamentos num mês.
Mas,Lobato havia inovado também na qualidade gráfica,no feitio das capas,substituindo as antigas e feias por capas desenhadas por nomes famosos das Artes Plásticas,como Lemi.
Lobato corria atrás do leitor,procurando saber onde morava,levando o livro pessoalmente em casa dele,batendo papo sobre tudo,fazendo do leitor um amigo.
Modestamente, confesso ,que ajo assim,também;cada leitor é meu amigo,quero saber dele,escrevo para ele,adoro seus comentários e sugestões.
Não tenho pudores para vender meus livros;sem ser invasiva ofereço,propago,procuro.
Quando penso em oferecê-lo a alguém, que acho que haveria de gostar da obra, e esse alguém não pede o livro,penso comigo:-Que pena!
E lamento não ser rica para poder presenteá-lo.
Este ser humano tão rico de idéias e pensamentos, Monteiro Lobato ,existiu.
E está sempre presente no meu pensamento. Sua influencia sobre mim ,desde a infância,pois,”Reinações de Narizinho” foi o primeiro livro que li,permanece até hoje e eu o amo como um pai espiritual que abriu para mim os caminhos do Conhecimento.
***Trecho da palestra que proferi “Monteiro Lobato,um homem de muitas Artes”,na Academia de Cultura da Bahia.
Lobatoé o escritor homenageado na Bienal do Livro 2010,em S. Paulo.
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