Se é verdade que não subscrevo tudo o que diz (…), julgo que só nos matizes e num ou noutro desenvolvimento prático isso não acontece. Por exemplo, mal conheço o Doutor Fernando Nobre para ter opinião acerca da sua candidatura, embora me agradem os argumentos que apresenta a seu favor. No essencial e no conjunto reconheço-me nas posições que assume e sinceramente me alegro por ver que há quem as defenda em público e com tal determinação; fazendo votos por que, para além do meu Amigo, elas representem o pensamento de boa parte da nova geração (…).
Felicito-o também pelo apreço que mostra pelo Professor Adriano Moreira, pessoa com quem nunca falei, mas que tenho como o único político que realmente pensa a nossa situação e os nossos problemas a partir do sistema de valores a que o Renato Epifânio chama a cultura, a nossa cultura. Acontece porém que essa cultura ou sistema de valores tem sido sujeito a tão persistente e violento desgaste que se tornou cada vez mais algo virtual e portanto uma referência dificílima de usar com proveito. Estou mesmo convencido de que as forças que nos são adversas – e elas existem, patentes ou ocultas, agindo sobretudo no interior da sociedade –, essas forças há muito dirigem a barragem de fogo contra os valores culturais que possam sustentar a nossa identidade.
Por mim, que nem sou da geração do Professor Adriano Moreira nem da do Renato Epifânio e tenho a noção dos meus limites, mas combato na mesma hoste, tenho-me limitado à defesa e promoção desses valores culturais. A passagem pela política activa, para a qual não tive vocação, resultou de circunstâncias imperiosas e não teve condições para dar real expressão a esses valores. Por isso mais aprecio a atitude do Renato Epifânio e daqui o incito a continuar, pois urge que haja quem dê forma concreta a uma “república” tanto mais desacreditada quanto mais se tornou a bandeira de partidos, que aliás mais parecem bandos de malfeitores.
A tarefa é muito difícil e crucial, tanto mais porque se a Espanha, por exemplo, não envia as suas forças armadas para conquistar Portugal, não desiste do intento de o conseguir por via económica, como é notório, esperando algo semelhante ao que sucedeu em 1580. Por outro lado, os ressentimentos, mesmo se não forem espontâneos, serão artificialmente cultivados, como ainda hoje se observa em muitos brasileiros, passados quase dois séculos da independência, por sinal protagonizada pelo herdeiro do trono português. Dificuldades estas (como outras) que o Renato Epifânio não subestima decerto, embora compreensivelmente procure reduzi-las à dimensão que convém. Aliás, parece-me muito feliz a opção por valorizar tanto o caso de Timor, para quem as nossas responsabilidades são enormes.
Deixe-me só acrescentar que se Portugal, felizmente, não nasceu sobre um poço de petróleo, dispõe de excepcionais condições naturais e estratégicas que só não usa porque, como diz, não tem projecto próprio e deixou de acreditar em si mesmo (…)
Joaquim Domingues
Braga, 13 de Maio de 2010
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