Jorge Heitor
Nem presidentes da República nem Governos têm conseguido acabar os seus mandatos, no mais infeliz dos territórios africanos que estiveram sujeitos à administração colonial portuguesa.
Há 36 anos Lisboa decidiu reconhecer a Guiné-Bissau como um Estado independente, mas hoje em dia ela continua a não ter pernas para andar por si própria, estando sujeita aos caprichos de uns quantos militares e narcotraficantes.
Antigos combatentes e familiares dos mesmos têm feito o país refém dos seus caprichos, sem permitir o funcionamento de um mínimo que seja de estruturas democráticas, naquela que é a nódoa mais negra que na década de 1970 Portugal deixou na África.
Nem um espaço grande como Angola ou Moçambique, nem uma administração justa como a de Cabo Verde, nada disso existe na Guiné-Bissau, onde é completo mo descrédito da justiça e elevado o nível de corrupção.
Os portugueses não souberam colocar ali 15 ou 20 por cento da população, no mínimo, a falar aquela que seria proclamada a língua oficial de todo o espaço lusófono. Não souberam criar estruturas. Tudo ficou ao abandono, como se ninguém tivesse pensado em meados do século passado que se tornava necessário preparar o terreno para uma unidade política que se mostrasse viável.
Sem uma riqueza petrolífera como a de Angola nem uma central hidroeléctrica como a de Cahora Bassa, a Guiné-Bissau foi deixada ao abandono das suas plantações de caju e de populações maioritariamente analfabetas, sem qualquer preparação para erguerem em três décadas um Estado que se mostrasse viável.
O respeito pelos direitos humanos dos guineenses deve continuar a ser uma das preocupações básicas de toda a CPLP, quando vemos uns quantos militares de volta e meia a pegar em armas e a prender quem muito bem entendem, atirando com os seus adversários para o fundo de uma cela.
O não esclarecimento devido das mortes do Presidente Vieira, do general Tagme Na Waie e de tantos outros guineenses continua a ser um espinho cravado no coração de todos os que se expressam em português, fazendo com que eles não desistam enquanto em Bissau não for implementado um Estado de Direito, onde a última palavra caiba aos poderes devidamente constituídos e não a quem tiver umas quantas armas em seu poder.
Oficiais rebeldes e até mesmo políticos eventualmente associados ao narcotráfico não podem continuar impunemente a ditar as leis, como até aqui se tem verificado. Nem na Guiné-Bissau nem na vizinha República da Guiné. com a capital em Conakry, é tolerável que isso aconteça.
Sanear o ambiente político-social naquela parte da África Ocidental deverá ser uma preocupação de toda a União Africana, de modo a que não possamos dizer, ou sequer pensar, que os territórios situados entre o Senegal e o Golfo da Guiné não se encontravam de forma alguma preparados, em 1958 ou em 1974, para serem reconhecidos como entidades independentes.
Todos nós temos de os ajudar, para que se libertem da cobiça de traficantes de vária espécie, sejam eles oriundos da América Latina, do Extremo Oriente ou de qualquer outra região.
Enquanto o não fizermos, denodadamente, só nos resta lamentar tudo aquilo a que temos vindo a assistir desde a Guiné-Bissau à Costa do Marfim, em terras que tardam em conseguir consolidar a sua unidade nacional.
As figuras como Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Pedro Pires cabe mobilizar as consciências e as chancelarias para o saneamento do clima político-social naquelas paragens. Oxalá o consigam fazer!
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