Presidente da República Portuguesa
Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva
O Senhor corre o sério risco de ser o primeiro Presidente da República que, recandidatando-se ao cargo, perde as eleições. Como sabe, por regra, todos os Presidentes em exercício têm-se recandidatado e têm ganho, por larga margem. Escusado será dizer o quão humilhante seria, para si, ser o primeiro Presidente da República a não conseguir a reeleição.
Há muita gente que espera que isso aconteça. Não é propriamente o meu caso. Considero que, juízos políticos à parte, o Senhor tem um passado de Serviço ao Estado que deve ser respeitado. Eu, pelo menos, respeito-o. E, nessa medida, não ficaria contente por vê-lo sair pela porta pequena do Palácio de Belém.
O que ouso sugerir-lhe é, ao invés, uma saída pela porta grande. O Senhor poderia dirigir-se ao país e dizer algo próximo disto:
“Caros Compatriotas:
Como sabem, dediquei grande parte da minha vida a servir Portugal, nomeadamente no plano político – onde fui, sucessivamente, Ministro das Finanças, Primeiro-Ministro (por mais de uma década) e Presidente da República. Decerto, cometi muitos erros mas, podem estar certos disso, procurei, em cada momento, dar o melhor de mim.
Poderia prolongar esse serviço ao nosso país recandidatando-me ao cargo que, com muito honra, neste momento ocupo: o de Presidente da República.
Penso, contudo, que chegou a hora de me retirar. Depois de todos estes anos de contínuo serviço a Portugal, penso que tenho o direito de me dedicar mais à minha família.
Para mais, e esse foi para mim o argumento decisivo para não me recandidatar, há nestas eleições um candidato que, sem falsas modéstias, julgo poder cumprir melhor do que eu a função presidencial. Alguém realmente acima dos alinhamentos partidários e dos sectarismos ideológicos, alguém que não tem complexos em se assumir como um patriota e defender, como visão estratégica, a convergência entre todos os países lusófonos. Em suma, um homem de futuro e não refém do passado. Falo, obviamente, como todos já perceberam, do Doutor Fernando Nobre.
É com muita honra que, com este meu acto, contribuo para que ele seja o próximo Presidente de Portugal.”
Sei que, muito provavelmente, não seguirá esta sugestão. Tem todo o direito a fazê-lo. Mas depois não se queixe da sua sorte.
Muito respeitosamente
Renato Epifânio
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