Professor Doutor Adriano Moreira
Presidente da Academia das Ciências de Lisboa
Exmo Senhor
Professor Doutor António Dias Farinha
Secretário-Geral da Academia
Exmo Senhor
Doutor Mário Soares
Exmo Senhor
Embaixador do Brasil
Doutor Celso Vieira de Sousa
Exmo Senhor
Secretário-Executivo da CPLP
Engenheiro Domingos Simões Pereira
Exmo Senhor
Embaixador Lauro Moreira
Distintos Académicos e demais Autoridades
Minhas Senhoras e meus Senhores
2. Esta causa, que é a nossa – a da Convergência Lusófona, a do reforço dos laços entre os países lusófonos, a todos os níveis: não só cultural, mas também social, mas também económico, mas também (não tenhamos medo da palavra) político –, é, a nosso ver, cada vez mais, uma Causa de Futuro. Na perspectiva do MIL, Portugal e todos os outros países da CPLP terão tanto mais futuro quanto mais apostarem num caminho de convergência entre si. Essa é a grande premissa deste movimento cultural e cívico que, em poucos mais de 2 anos, mereceu já a adesão expressa de mais de 2 mil pessoas, de todo o espaço lusófono.
3. O facto do Professor Doutor Adriano Moreira ter aceite associar-se a esta iniciativa prova, uma vez mais, que também ele é, sempre foi, um Homem de Futuro. Foi um Homem de Futuro no passado, continua a ser um Homem de Futuro no presente. Há sempre, infelizmente, quem o não perceba. Daí, por exemplo, alguns protestos que ocorreram quando, no 2º número da NOVA ÁGUIA, que teve como tema “António Vieira e o Futuro da Lusofonia”, se deu o devido destaque ao texto do Professor Doutor Adriano Moreira, texto, de resto, lido em primeira mão neste mesmo espaço, na abertura oficial dos Quatrocentos Anos do Nascimento de António Vieira, a 6 de Fevereiro de 2008. Consideravam, essas poucas vozes, que o Professor Doutor Adriano Moreira era um homem do passado, que a própria causa da Lusofonia, da Convergência Lusófona, era uma causa do passado. A História encarregar-se-á, como sempre, de mostrar quem tinha, quem tem, razão…
4. Tendo decidido, pela primeira vez, atribuir este Prémio, o da Personalidade Lusófona do Ano, a Comissão Executiva do MIL chegou de imediato ao nome do Embaixador do Brasil na CPLP, Lauro Moreira – exactamente por todo o seu distinto trabalho em prol da Lusofonia, em prol da Convergência Lusófona. Fizemos então, como sempre, a proposta formal ao nosso Conselho Consultivo – órgão que reúne representantes de todos os países da CPLP, incluindo algumas regiões linguística e culturalmente afins, como a Galiza, Goa, Macau e Malaca. Devo dizer – a bem da verdade – que, nessa votação, houve um voto não favorável. Curiosamente, de um brasileiro – o que prova que, de facto, Portugal e o Brasil são dois povos-irmãos: se o candidato fosse um português, haveria decerto pelo menos um outro português a não votar a favor. A razão, contudo, não teve a ver com a pessoa do Embaixador Lauro Moreira, ressalve-se, mas com o trabalho da CPLP, ainda aquém do que pode ser, ainda muito aquém, nomeadamente, do sonho de Agostinho da Silva da criação de uma verdadeira Comunidade Lusófona. As razões, para tal, são diversas e, nalguns casos, bem relevantes – se a CPLP não tem avançado mais não é, na maior parte dos casos, por culpa dos seus dirigentes, mas, a montante, dos governantes dos vários países da CPLP, que ainda não perceberam o quanto a Lusofonia, a Convergência Lusófona, é, de facto, uma causa de futuro. Também por isso movimentos como o nosso são importantes – porque não estão manietados por bloqueios político-diplomáticos, podem, mais livremente, abrir caminho… Daí a série de propostas que temos feito: a da criação de uma “Força Lusófona de Manutenção de Paz”, para acorrer a situações como aquelas que se verificaram em Timor-Leste e, mais recentemente, na Guiné-Bissau; a do “Passaporte Lusófono”, em prol da livre circulação de pessoas em todo o espaço da CPLP; ou a do Canal Lusófono de Televisão e do Banco de Cooperação Lusófona, instituições a serem geridas, partilhadamente, por todos os países desta Comunidade. Daí ainda a série de iniciativas que temos promovido: referimo-nos, particularmente, aos vários debates públicos (sobre o futuro da CPLP, sobre a situação na Guiné-Bissau e sobre a questão da Galiza) e ao envio de livros que, através das parcerias que estabelecemos com outras entidades, conseguimos fazer chegar à Guiné-Bissau e a Timor-Leste. Tendo tudo isso sido possível através do empenho e trabalho de várias pessoas – desde logo dos meus colegas da Comissão Executiva do MIL: António José Borges, Casimiro Ceivães, Eurico Ribeiro, José Pires e Rui Martins –, gostaria aqui de salientar o particular empenho e trabalho da Paula Viotti nessas recolhas de livros que realizámos neste último ano. Por isso, de resto, a elegemos como a MILitante do Ano de 2009.
5. A resposta que, em nome da Comissão Executiva do MIL, dei à pessoa que contestou a nossa escolha do Embaixador Lauro Moreira, entretanto validada também por centenas de mensagens que nos chegaram, de todo o espaço lusófono, foi a seguinte: «Caro Amigo, se a CPLP não avançou mais, não foi por culpa do Embaixador Lauro Moreira. Bem pelo contrário: se mais Lauros Moreiras existissem, a CPLP, certamente, estaria já bem mais avançada, bem mais perto do sonho de Agostinho da Silva». Esta é, em suma, a razão maior desta nossa distinção.
6. Para terminar a minha intervenção, lerei um dos muitos textos que nos chegaram (inclusive de entidades oficiais, como, citando apenas uma, da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, de Cabo Verde, que havia já igualmente homenageado o Embaixador Lauro Moreira com o título de Cidadão Honorário da Cidade Velha) – o texto, a mensagem, de Amândio Silva, Presidente da Associação Mares Navegados e um dos vinte cinco membros do nosso Conselho Consultivo, que com muita pena não pode estar aqui hoje:
«ATÉ SEMPRE, COMPANHEIRO LAURO!
Se podemos apontar várias iniciativas meritórias por parte do MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO, esta, a de homenagear o Embaixador Lauro Moreira como Personalidade Lusófona do Ano de 2009, tem um significado de profunda justiça para com um protagonista admirável da luta pela afirmação da língua portuguesa no contexto internacional, merecendo realce sua intervenção relevante na consolidação da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Até porque será difícil encontrar outra personalidade que, pela sua ação e pensamento, revele tão forte identidade com as razões da existência e da atividade do MIL, na sua vocação lusófona.
Se Lauro Moreira tivesse sido contemporâneo de Agostinho da Silva, se tivesse tido oportunidade de o conhecer na Paraiba, na Bahia ou em Brasília, teria sido – estou certo – um curioso ouvinte das suas provocações e depois um ativo companheiro na sua enorme capacidade de fazer. Teria sido um dos primeiros universitários da Paraiba a sair de João Pessoa, seguindo o Professor e a Judite Cortesão, naqueles anos cinquenta, integrando os grupos que o casal organizava para incursões sertão adentro, para ajudar as vítimas da seca, ensinando a aproveitar a rara água e até os cuidados de como enterrar os mortos. Teria sido um dos frequentadores, tal como Glauber Rocha, do curso de Teatro que Agostinho montou na Universidade da Bahia, primeira tarefa do programa de criação do futuro CEAO- Centro de Estudos Afro-Orientais, que ainda hoje tem um papel aglutinador dos interessados no estudo das raízes africanas do Brasil. Teria sido um dos estudantes moradores da "Trapa", o barracão que Agostinho imaginou e dirigiu, para garantir a sede do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, na Universidade de Brasília, e se teria encantado ao lado do Professor com as cores e os sons do bumba-meu-boi e do tambor da crioula de mestre Teodoro, até hoje fortes esteios da comunidade, ali perto, no Sobradinho. Teodoro Freire, antigo contínuo da Universidade de Brasília, até hoje afirma que seu bumba-meu-boi é diferente de todos os outros porque se firmou sob a inspiração de Agostinho. Aos 90 anos foi agraciado pelo Presidente Lula da Silva com a Medalha de Honra do Folclore. Agostinho com certeza que o abraçou.
Esse espírito agostiniano de Lauro Moreira merece ser lembrado neste prestimoso cenário da Academia das Ciências de Lisboa, cujo Presidente, o Professor Doutor Adriano Moreira, anfitrião desta festa, é um dos portugueses que melhor entendeu as mensagens de Agostinho.
Conheci Lauro Moreira em 1999, dez anos antes desta consagradora homenagem, como membro da Comissão Organizadora das Comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Eu era então secretário-geral da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento do Mundo de Língua Portuguesa. Logo nesse primeiro encontro, para além da capacidade de realização dos eventos de circunstância da efeméride, percebi em Lauro Moreira a sua perfeita consciência de que todos os passos de aproximação, colaboração e melhor mútuo conhecimento entre portugueses e brasileiros seriam sempre oportunos e potenciadores.
Mais tarde, me recebeu como Diretor do Departamento Cultural do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e, depois, mantivemos contatos mais próximos, já enquanto Diretor da ABC- Agencia Brasileira de Cooperação, momento em que, em coordenação com a CPLP, a ABC financiou o projeto de bolsas para África e Timor-Leste que a Fundação Luso-Brasileira organizou, com o suporte técnico da Biblioteca Nacional, onde os bolsistas encontravam todas as condições necessárias para o desenvolvimento de seus trabalhos.
Desde professores universitários a bibliotecários e monitores de alfabetização e instrução primária, de quase todos os países da CPLP - apenas São Tomé e Príncipe não conseguiu apresentar candidatos -, que tinham suas propostas de trabalho previamente aprovadas por uma Comissão da Biblioteca e da Fundação, pudemos organizar um programa que até hoje, entre os que dirigi, considero como o de maior significado em termos lusófonos. Uma iniciativa de entidades portuguesas, com financiamento do governo brasileiro, abrangendo quase todos os países da CPLP, mereceria por certo a aprovação de Agostinho da Silva e também mereceu a chancela do Embaixador Lauro Moreira.
Assim chegamos ao auspicioso anúncio da nomeação de Lauro Moreira como titular da Missão do Brasil, sendo assim o primeiro Embaixador junto à CPLP, entre todos os países da Comunidade, exemplo felizmente já seguido por Portugal, com a nomeação do embaixador António Russo Dias, diplomata de grande experiência nestas lides do mundo de língua portuguesa.
E o que dizer deste mandato magnífico que se encerra por exigência de limite de idade, o que, pese sua normalidade e consequências irreversíveis, no caso de Lauro, nos soa como uma incongruência, pois que tanto ainda poderia toda a CPLP beneficiar de sua admirável tenacidade, pelo menos até aos oitenta?
Em termos pessoais, ficarei para sempre grato a Lauro Moreira por ter aceitado sem hesitação ser um dos fundadores da Associação Mares Navegados, à qual obviamente continuará a pertencer onde quer que esteja. Bastou ler o segundo artigo dos estatutos e ouvir o nome de outros companheiros que chamei, para não ter dúvidas que éramos - e somos - militantes das mesmas causas, comprometidos com a saga da Lusofonia. Não só fundador como animador constante da nossa batalha pela implementação do Acordo ortográfico, que só agora começa a dar sinais concretos de que também em Portugal será uma grata realidade.
Quando se fizer a história deste tema tão polémico como o do Acordo Ortográfico, que nesta Academia teve batalhadores persistentes como o Professor Doutor Malaca Casteleiro, que acompanhou este arrastamento de vinte anos, e puderem ser focados os últimos três, coincidindo com o seu mandato à frente da Missão do Brasil junto à CPLP, será incontornável a referência a Lauro Moreira e o reconhecimento do seu papel como um dos principais responsáveis do desbloqueamento do processo em Portugal.
Suportou com a galhardia dos valentes vários ataques, até ofensas, defendendo sem vacilar como Embaixador do Brasil a grande importância do Acordo Ortográfico, também política e como marco de solidariedade lusófona – do Brasil, em particular, que, por sentimento histórico, não concebia esta Reforma ortográfica sem a ratificação de Portugal. Felizmente, o bom senso colocou-nos no caminho correto de uma mesma ortografia da língua portuguesa em todo o mundo.
Mas essa foi uma entre muitas outras demonstrações da capacidade de Lauro Moreira, de novo na linha agostiniana de fazer, de realizar.
O auditório da Missão foi palco de largas dezenas de eventos culturais, porta aberta para lançamentos, seminários e palestras.
O centenário de Machado de Assis deu origem à maior divulgação até hoje realizada em Portugal da obra desse enorme vulto da literatura brasileira. Manuel Bandeira passou a ser conhecido por muitas plateias curiosas, em todo o rincão lusitano.
Lauro Moreira mobilizou os maiores espaços nacionais para a apresentação de grandes espetáculos, de teatro e, sobretudo, de música brasileira, em todos os seus timbres e melodias, para encanto de nossas gentes.
Me perdoa, Lauro, mas o rol de teus feitos é de tal monta que apenas referi os que melhor acompanhei.
Termino com a manifestação de gratidão pelo que fizeste também por amor a Portugal, onde deixas tantos amigos e admiradores sinceros, que não deixarás de voltar amiúde e nós te encontraremos no Brasil ou em África ou em Timor para continuarmos os sonhos que partilhamos contigo.
A última linha para confessar que ao reler o texto, escrito em Salvador, soltei uma lágrima de emoção, tanto te queria abraçar esta tarde na Academia das Ciências dessa Lisboa que também já é tua, junto aos companheiros do MIL e da Mares Navegados.
ATÉ SEMPRE, COMPANHEIRO LAURO!»
Lisboa, Academia das Ciências, 8 de Fevereiro de 2010
Renato Epifânio, Porta-Voz do MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO
P.S.: Pela quantidade – cerca de uma centena – e sobretudo pela qualidade das pessoas presentes nesta sessão, mais ainda, pelo local onde esta se realizou – Academia das Ciências de Lisboa, com toda a sua carga institucional, simbólica e mediática – esta data marca um antes e um depois na ainda breve história do MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO. A partir de hoje, o MIL é, passou a ser, um interlocutor incontornável em todos os assuntos relativos à Lusofonia, à Convergência Lusófona. Saibamos ter noção disso, saibamos estar à altura dessa responsabilidade.
1 comentário:
Obrigada MIL.
É uma honra estar convosco.
Abraço MIL
Paula Viotti
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