José Maria Neves, primeiro-ministro de Cabo Verde, manifesta-se surpreendido com o "nível elevado" de violência que assola o arquipélago, exigindo uma "reflexão" que envolva todos os agentes da sociedade cabo-verdiana para promover a tolerância, respeito e diálogo.
José Maria Neves, que falava na sessão de abertura da III Conferência do "SOL", a rede de atendimento às vítimas de violência baseada no género, deu conta dos vários aspectos ligados à violência, protagonizada nos principais centros urbanos, envolvendo a delinquência juvenil, violência doméstica e sinistralidade rodoviária.
"Sempre pensei que, pela nossa pequenez e pelo maior controlo social, estaríamos mais livres do nível de violência que se verifica neste momento em Cabo Verde", sublinha o chefe do Executivo cabo-verdiano.
José Maria Neves salienta sobretudo a violência com base no género, e a doméstica, que afecta mulheres e crianças, para frisar a necessidade de uma "reflexão" para analisar o papel das instituições, do Governo, da polícia, das escolas, dos partidos políticos e da comunicação social. "Temos de saber se estamos efectivamente a cumprir o nosso papel", realça, frisando a necessidade de se envolver na análise o Governo, polícia, igrejas, escolas e famílias.
O primeiro-ministro cabo-verdiano congratula-se no entanto com os esforços para a criação de uma lei que permita aos tribunais serem mais céleres na resolução dos processos relacionados com a violência baseada no género.
Segundo a presidente do Instituto Cabo-Verdiano para a Igualdade e Equidade do Género (ICIEG), Cláudia Rodrigues, 22% das mulheres entre os cinco e os 49 anos são vítimas da violência doméstica, número que estará muito aquém da realidade, uma vez que nem todas apresentam queixa. "Estamos a delinear uma estratégia jurídica, uma lei mais específica de combate à violência com base no género", sublinhou Cláudia Rodrigues na cerimónia de abertura da conferência, defendendo respostas "mais céleres e adequadas" e a transformação em "crime público" e não o actual "semi-público". Para Cláudia Rodrigues, "este estatuto dificulta bastante" o trabalho dos tribunais, das polícias e das instituições que apoiam as vítimas. "A violência doméstica é muito complexa. Estamos a falar de graus de violência que podem chegar ao homicídio", concluiu.
Além da violência contra a mulher, que conta com vários programas de apoio financiados pelos EUA, Cabo Verde está a braços com um aumento da violência e de crimes perpetrados maioritariamente por jovens, que provocaram três mortos nas últimas duas semanas.
O aumento da criminalidade - não há ainda estatísticas oficiais - foi também o alvo das preocupações do presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, que nas suas últimas intervenções tem exigido uma reflexão sobre o panorama da violência para que se encontrem respostas para o problema.
Os thugs, como são conhecidos os jovens organizados em bandos, têm utilizado uma prática que é conhecida localmente por "cassubódi", derivação crioula da expressão inglesa, oriunda dos EUA, "cash or body" ("dinheiro ou a morte", numa tradução livre), e que tem vitimado dezenas de pessoas.
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