Eu sou dos que pensam que o devemos utilizar. A questão (complexa) da selecção de candidatos não nos ocupa, de momento. Camilo deu conta de eventuais dificuldades, quando escreveu: Não vão cuidar agora que eu estou já espreitando o nicho do templo da eternidade em que hão-de encolher os vindouros – encolher, digo, por que não podemos caber lá todos.
Honrar os maiores, eleva quem o faz. Admito que os sentimentos de respeito por Camilo sejam idênticos se a homenagem for prestada no Panteão Nacional ou no Cemitério da Lapa, no Porto. A questão remete-nos, porém, para o âmbito mais geral dos prémios e honrarias. Para que servem?
Napoleão sabia que as medalhas não passavam de pedaços de lata. Distribuía-as, ainda assim, criteriosamente, pelos melhores dos seus soldados. Ajudavam os homens a ultrapassar o próprio valor.
As medalhas olímpicas premeiam esforços violentos e pouco saudáveis. O seu mérito maior residirá na motivação que representam. Levam milhares de jovens a fazer exercício físico.
E que dizer dos prémios literários? Quantos putos terão começado a escrever por sonharem com o Nobel?
A entrada no Panteão constitui outro prémio. Será uma honra com que poucos, em vida, terão contado. Vem-me à ideia Miguel Torga que, a meu ver, se começou a preocupar demasiado cedo com a opinião da posteridade. Os Diários dos últimos anos foram expurgados das fraquezas humanas. Ora, todos sabemos nenhum homem é feito de um barro só. Os escritos empobreceram.
Ainda assim, julgo que as distinções têm utilidade. Mantenho a intenção de me esforçar por congregar vontades que possam conduzir à transladação dos restos mortais de Camilo Castelo Branco para o Panteão Nacional.
E Camilo, se fosse vivo, que pensaria da questão?
Não tenho mesa de pé-de-galo. Limito-me a fazer suposições, falíveis como todas. Camilo era sensível a homenagens. A luta prolongada que travou pela nobilitação manteve-se durante década e meia. O novelista não desistiu, apesar das dificuldades levantadas pela questão da mancebia. Por outro lado, a alegria com que recebeu a modesta distinção que significou o resultado do plebiscito do Imparcial de Coimbra, cujos leitores o elegeram, em Dezembro de 1884, como o mais notável dos escritores portugueses, diz bem do apreço em que Camilo tinha as distinções públicas. Concluiu o agradecimento emocionado escrevendo: um velho saúda na geração nova o fruto da árvore que ele ajudou a plantar.
Saudações lusófonas!
2 comentários:
Parece-me uma boa causa.
Abraço!
Caro António Trabulo, excelente réplica.
Ainda responderei, mal possa - ou melhor, insistirei em defesa do que sei que para o mundo em que vivemos é indefensável.
Cordial abraço!
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