[...] Lembram-se da Estratégia de Lisboa? Lembramo-nos de poucas coisas. Esquecemo-nos rapidamente de muitas coisas. É a isto que nos conduz e efemeridade que os tempos modernos cultivam.
Os dirigentes da Europa reuniram-se em Lisboa, em Março de 2000, e definiram vários objectivos a serem atingidos até 2010, visando tornar a Europa na realidade económica mais competitiva do mundo. A educação e a formação ocupavam boa parte dos seus propósitos. Chegados ao momento da verdade, 2010 está aí, tudo falhado [...]. E que propósitos são os da geração que governa? Tudo orientar para conseguir uma comunidade económica mais competitiva? Onde fica o homem integral? Para que serve a Escola? Para preparar pessoas ou simples instrumentos de uma economia global, desumanizada, injusta, egoísta, que nem os seus miseráveis propósitos, meramente instrumentais e consumistas, consegue realizar? Que independência é a nossa? Quem comanda os destinos do nosso sistema de ensino? Agências económicas globais, orientadas para resultados económicos, que desprezam as pessoas.
Portugal não define as suas políticas educativas. Portugal está de cócoras frente aos senhores do dinheiro. Não está só, é certo. O fenómeno repete-se, globalizado, nas sociedades do chamado Ocidente desenvolvido. [...] Quem é a OCDE para perorar sobre o processo educativo dos nossos filhos? Que sabe ela de pessoas autónomas? Sabe de pessoas servis. Julga saber de números e fala do êxito na ponta de resultados sem significado, como se a felicidade dos povos fosse da exclusiva dependência da produtividade de quem trabalha. E a produtividade do capital? E a produtividade de quem manda, dos empresários e dos políticos? Ciclo após ciclo falhado, o discurso retorna inevitável, como agora: diminuir salários e aumentar impostos [...].
Os dados esmagam [...] em cada mês que passa, 100 portugueses licenciados compram bilhetes sem regresso, para se furtarem ao número aterrador dos 44.700 colegas que sobrevivem a fazer trocos nas caixas registadoras ou a debitar cassetes nos call centers. Será que os arautos da formação ao longo da vida mantém a lata de considerar a educação e a formação como "elementos-chave da renovada agenda social para as oportunidades, acesso e solidariedade"? De que falam? De que oportunidades? De que agenda social? [...]"
Caro Santana Castilho, gosto quase sempre de te ler. Mas agora que te aplaudi, deixa-me dizer que és um optimista ainda um bocadinho ingénuo:
[...] é tempo de reconhecer que o problema não é de mais formação. A grande causa da nossa fragilidade reside na desigualdade social e económica entre os cidadãos [...]
Antes fosse, e o problema resolvia-se. Mas estamos a ficar cada vez mais iguais, porque cada vez mais igualmente escravos. Esse, Santana Castilho, não é um problema de formação, mas de formatação. Mas concordo com a tua (quase) última frase:
"Sem substituir políticas e políticos soçobramos".
3 comentários:
Como ter uma Escola para formar o "homem integral" quando tudo à volta, na dita sociedade, está feito para o desintegrar?
Como não pudemos mudar de sociedade (ou, pelo menos, enquanto não pudermos...), uma Escola dessas teria ser bem mais do que um Colégio Interno. Quase uma fortaleza...
Claro, Renato. Eu vou tentando avisar o senhor de que é um bocadinho ingénuo...
Enfim, ele tem que escrever para os jornais. Faz parte...
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