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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

domingo, 22 de novembro de 2009

Europa

Portugal faz parte da Europa, embora pudesse, teoricamente, não fazer parte da União Europeia. É lastimável que entre nós cada vez mais se confundam as duas coisas. É também lastimável que entre nós se finja não perceber que, se Portugal não fizesse parte da União Europeia, não faria parte da Zona Euro - o que, no ano passado, teria tido as lindas consequências que teve para a Islândia (a falência, recorde-se aos distraídos), com o provável efeito multiplicador que a tradição de péssima gestão e desorganização crónica dos nossos 'dirigentes' politicos e financeiros haveria de trazer. Talvez alguém se lembre do que estava a ser a patética evolução do escudo (e da inflação) nos anos que precederam 2002.

(e por favor não me venham falar da estabilidade financeira do Salazar. O mundo mudou entre 1971 e 1973, os tempos do 'choque petrolífero', tanto como mudou Portugal em 1974. Alguns sonhadores costumam falar do que seria Angola sob administração portuguesa, ao lado de uma África do Sul branca e invencível. Claro. Outros sonhadores não vêem diferença entre o mundo que assistiu ao Maio de 68 em Paris e o mundo que Reagan encontrou e geriu.)

Fazer parte da Europa significa, hoje, muito mais do que alguma vez historicamente significou - e fazer parte da Ibéria também. Significa, hoje, uma coisa que os políticos portugueses nunca quiseram desde os tristes tempos do liberalismo, e de que os intelectuais portugueses tendem a fugir como o diabo da cruz: responsabilidade. Responsabilidade para decidir quando é tempo de decidir sozinho, para dialogar e partilhar decisões quando é hora de decidir em conjunto. Para voar de falcão e para voar de coruja, como sabiamente recomendava D. João II, talvez o maior político que a família real portuguesa alguma vez gerou (o que não quer dizer que tenha sido o maior dos nossos reis). Responsabilidade que não seja a da conversa da treta de quem não tem lugar no governo ou o autismo de quem tem. Responsabilidade (e eficácia) que está, mal ou bem, no melhor que a tradição europeia inventou. Às vezes chama-se a isso democracia, em prejuízo do significado original desta duvidosa palavra.

Como quase sempre, o problema tem duas faces.

Por um lado, há oitocentos, há quatrocentos ou ainda há cem anos, desde que Castela nos não invadisse e a pudéssemos atravessar por terra ou costear por barco a caminho dos mares do Norte ou do Mediterrâneo, nada mais era preciso e tudo estava bem. Hoje, obviamente, não é assim. A construção de uma central nuclear em Espanha (ou em França), a preciosa água do Tejo e do Douro (que não são rios nacionais), a chegada de gás natural vinda da Argélia ou da Rússia, a posição de princípio e a actuação prática face aos imigrantes e aos refugiados, que cada vez mais são multidão, o permanente agudizar da catástrofe étnica, social, militar e política no agora chamado Médio Oriente, as redes cada vez mais complexas de dependência alimentar, económica, financeira (não confundir com a económica), a insuportável transformação mundial das relações de trabalho do último capitalismo traduzidas por um exército de trabalhadores precários ao serviço de empresas anónimas e nómadas, o colapso da estrutura industrial 'pesada' que fez nascer o século XX, as perturbações climáticas (de origem humana ou não), a mercantilização brutal de todas as esferas da vida, a inacreditável intervenção dos 'poderes públicos' na mais insignificante decisão individual, tudo isso faz com com que o desinteresse ou o cinismo (sincero ou cinico) em relação ao destino e ao lugar dos europeus - e dos portugueses entre eles - não mereça ser visto como muito mais do que traquinice infantil ou mais ou menos compreensível amuo.

Por outro lado, é certo que a Europa - a da união política - nasceu mal, e mal continua. Nasceu entre países devastados pela guerra; militar, económica e politicamente dependentes de uma potência - os Estados Unidos - e aterrorizados, e com razão, com outra - a União Soviética. Nasceu sem explicar ao que vinha, o que queria, o que arrastaria consigo. Nasceu como salvadora e guardiã de um capitalismo em que ainda era possivel acreditar, e com a confiança de quem ainda dispunha de vastas extensões do mundo como colónias abertas ou disfarçadas. Nasceu e gerou a mais inacreditável burocracia que alguma vez se viu a Oeste de Berlim, ao pé de quem Napoleão não passa de um pândego e Bismarck não passa de um folião. Nasceu, cresceu e está aí - para nosso bem e nosso mal, como o mundo todo está desde a fundação do mundo.

Deixarei para outros textos três coisas: a responsabilidade que Portugal quis ter, enquanto pôde ter, nos negócios comuns da Europa; as vias e transvias do famoso destino atlântico de Portugal; o lugar da Europa num mundo cada vez mais feito de BRIC, e de bric-a-brac.

6 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Portugal «não faz parte» da Europa (a Península Ibérica é um sub-continente europeu, geográfica, culturalmente e etnicamente), faz parte da Civilização Mediterrânica, com as suas duas margens - mas deve fazer parte da União Europeia.

Klatuu o embuçado disse...

P. S. Depois continuo... vou matar uns Alemães no «Blitzkrieg» a ver se me dá o sono (os jogos de computador são, até agora, o meu melhor soporífero)... ;)

Abraço.

Rui Martins disse...

"Portugal faz parte da Europa, embora pudesse, teoricamente, não fazer parte da União Europeia. É lastimável que entre nós cada vez mais se confundam as duas coisas. É também lastimável que entre nós se finja não perceber que, se Portugal não fizesse parte da União Europeia, não faria parte da Zona Euro - o que, no ano passado, teria tido as lindas consequências que teve para a Islândia (a falência, recorde-se aos distraídos), com o provável efeito multiplicador que a tradição de péssima gestão e desorganização crónica dos nossos 'dirigentes' politicos e financeiros haveria de trazer. Talvez alguém se lembre do que estava a ser a patética evolução do escudo (e da inflação) nos anos que precederam 2002."

> Seja... mas com o escudo teríamos a famosa arma cambial que nos defenderia e dar mais soberania numa época em que muitos países (a China, a começar) usam como arma comercial. Que agora nos é vedada...
> E sobretudo quantas exportações já perdemos nós por causa da excessiva força do Euro?... E com elas, emprego, balança comercial, etc...

"Fazer parte da Europa significa, hoje, muito mais do que alguma vez historicamente significou - e fazer parte da Ibéria também. Significa, hoje, uma coisa que os políticos portugueses nunca quiseram desde os tristes tempos do liberalismo, e de que os intelectuais portugueses tendem a fugir como o diabo da cruz: responsabilidade. Responsabilidade para decidir quando é tempo de decidir sozinho, para dialogar e partilhar decisões quando é hora de decidir em conjunto. Para voar de falcão e para voar de coruja, como sabiamente recomendava D. João II, talvez o maior político que a família real portuguesa alguma vez gerou (o que não quer dizer que tenha sido o maior dos nossos reis). Responsabilidade que não seja a da conversa da treta de quem não tem lugar no governo ou o autismo de quem tem. Responsabilidade (e eficácia) que está, mal ou bem, no melhor que a tradição europeia inventou. Às vezes chama-se a isso democracia, em prejuízo do significado original desta duvidosa palavra."

> Mas essa é parte do problema... com tanta responsabilidade a ser transferida para Bruxelas, não estamos a dar argumentos para que os nosso débeis "políticos" culpem o mal que se faz na "Europa"?
> Portugal sempre teve um problema de elites, e estas agora, nem sequer são portuguesas! Isso não pode ser bom...

Casimiro Ceivães disse...

Caro Clavis: de todos os países pequenos, só talvez a Suiça teve a 'arma cambial'. E isso era nos bons tempos - nunca é por demais repetir: nos bons tempos.

Eu lembro-me do George Soros a atacar, sozinho, a Libra inglesa, e a fazê-la tremer. Lembro-me de um discurso de um ministro das finanças português que nos fez perder, nas horas seguintes, algumas centenas de milhões de contos, na tal 'guerra cambial'. E os nossos amigos brasileiros talvez nos possam contar histórias sul-americanas das últimas décadas.

O raciocínio antigo, de que a moeda de um país vale o que valer a sua riqueza, deixou de ter validade no mundo financeirizado em que vivemos (aliás, se não fosse assim, onde estaria o dólar...)

Quanto às exportações... duvido de que valham o petróleo que importamos. E que, felizmente para nós que estamos no chapéu de chuva do Euro, ainda é pago em dólares.

Quanto ao outro ponto: o que está a ser transferido para Bruxelas é poder, não responsabilidade. E as duas coisas são muito diferentes - e aí sim, a grande falha ou uma das grandes falhas da Europa. Propões sairmos por causa disso?! Eu proponho exercer o poder que temos. Começar, por exemplo, por ler os dossiers. Votar em sentidos claros. Coisas dessas.

Klatuu o embuçado disse...

... E conspirar com a Europa Mediterrânica contra os norte-europeus... Eles é que são os bárbaros que ficam apalermados quando vêem prata e ouro - nós preferimos os azulejos, as tapeçarias, as filigranas, os vitrais... ;)

Casimiro Ceivães disse...

A França: romana, mediterrânica, céltica, bárbara (e não, Klatuu, não falo de Versalhes e do pó-de-arroz), arco e solidão da Europa.