2. Por mim vale a pena tomá-la a sério, até para ter uma base para confrontar os senhores da capital do império (Bruxelas?) com os resultados da sua política. Tomemos esta ideia a sério, e discutamo-la em abstracto (é o que há anos tem vindo a fazer o autor do post...); vejamos depois duas coisas que são diferentes dela - e diferentes entre si - que são (a) a de saber se a política dominante na União Europeia é ou não concretização e exemplo desta noção, e (b) se a ideia de um império não-imperial na Europa, em que Portugal se inclua e reveja, choca ou não com a comunidade a que o MIL se propõe, e que abrange parcelas de todos os continentes.
3. Vale também a pena pensar se é ou não verdadeiro o argumento que Barroso usou logo no princípio da sua resposta, e que é o da manifesta insuficiência dos Estados nacionais - dada a sua dimensão - para gerir os problemas globais que cada vez mais se nos colocam (clima e segurança foram os referidos, penso que há, obviamente, um outro da mesma dimensão a que o Presidente da Comissão se não quer referir - a devastação causada pelo descontrole mundial do capitalismo financeiro).
4. Esse argumento da insuficiência aplica-se, está bem de ver, a Estados com a dimensão da Bélgica ou da Hungria, e não (tanto) a colossos como a Rússia, o Brasil, o Canadá ou a Índia; poderíamos dizer que a nossa comunidade tem então o seu problema resolvido, pois dela fará parte o Brasil (digo mesmo mais: dela será elemento polarizador o Brasil) ou não será nunca coisa nenhuma. Falta saber se é mesmo assim, pois nem a Galiza nem a Guiné nem Timor, para dar três exemplos apenas, podem trocar de lugar geográfico com o Uruguai... e a segurança, a interdependência económica, o planeamento necessário para enfrentar as alterações climáticas, o comércio que não seja conduzido e gerido por multinacionais, etc etc, terão sempre como factor essencial a proximidade. Timor que o diga.
5. Poderá dizer-se também que esse argumento da dimensão é perigosíssimo, porque os países grandes são inevitavelmente ambiciosos e maus, e esse seria pois o destino da Europa... É terrível se isto for verdade, pois a nossa comunidade abrange pelo menos dois países grandes - o Brasil e Angola...
6. Finalmente, resta saber se, admitindo os 'impérios não-imperiais", é possível a alguém saber-se simultaneamente integrado em dois... sim, esta construção é a nave-mãe dos UFOS. Não vai ser fácil. Mas isso não é o mesmo que dizer que os OVNIS não existem...
6 comentários:
1. Perfeitamente normal: caldo da cultura portuguesa; o homem é inteligente, além de que começou pela extrema-esquerda a sonhar com o grande império proletário... :)
2. Eles levam-no a sério, é por isso que nem querem ouvir falar em «impérios»... Ficam com a sensação de que lhes estão a destapar o cu. Mas o império dos norte-europeus é outro, é continental: blindar a Europa e terem os países do sul e do leste como vassalos. O nosso império é cosmopolita...
Não chocará... se tivermos visão dentro do MIL, e não ficarmos presos ao quintalito lusófono...
3. 4. Tese correctíssima, se aplicada à Europa Ocidental, nenhum dos maiores estados é suficientemente grande para sobreviver sem alianças; essa é a História política e militar da Europa. A Rússia pode... é por isso que dificilmente virá a ser comunidade europeia, arriscando-se a um retrocesso medievo, porque não tem saída para nenhum lado, pelo chão é barrada pela União Europeia, pela China e pelo Japão (a China será dos poucos estados-nação viáveis, mas a China é um império dentro de portas, sempre o foi), pelo ar é barrada pelos EUA e seus directos aliados...
4. O Brasil, não tardará muito fará parte da economia comum que os EUA, Canadá e México vêm estabelecendo, mais rápido do que qualquer dos países entre o México e o Brasil.
5. «Small is beautiful», mas em política fica com as pernas curtas... O futuro político do mundo será decidido por um sistema de grandes alianças e algumas, poucas, grandes nações territoriais.
6. Nunca há dois muito tempo: o que estará em jogo no futuro é a disputa pelo Governo Mundial e a Paz Perpétua... :)
A economia comum americana integrará o Brasil, claro - a menos que o Brasil decida actuar por conta própria, como parece dar sinais de que pretende fazer.
É um assunto a seguir com a maior atenção.
E estou de acordo em que não há dois muito tempo; mas o antigo condomínio durou quarenta anos, e este se chegar sequer a esboçar será um desastre mundial. Aliás, não te esqueças de que a juventude do Barroso não foi trotskista; foi chinesa :)
Se o Brasil quiser continuar a existir (é até ao momento um «monstro» meio desgovernado, com problemas sociais profundos e sem política externa coerente)... jogará, como toda a gente, em vários tabuleiros.
Se só jogar no tabuleiro lusófono, cairá no maior ridículo da sua história: o de tentar ser colono sobre ex-colonizador e ex-colónias deste...
Mas com Angola nunca se safará. Aliás, a penetração do Brasil na África lusófona ser-lhe-á sempre difícil... os Africanos lusófonos continuarão a preferir Portugal, por razões boas e más; a pior é ser o nacionalismo africano o mais orgulhoso de todos, ao ponto de não considerarem nenhum afro-americano - mesmo que escurinho de todo -como um verdadeiro Africano. Quem ignora isto, pode já ir fazer uma formação política em África...
P. S. Eu também gosto do «mao», mas por razões teológicas... :)
NOTA: refiro-me, claro, a uma civilização do mal menor... e não a incendiar o mundo... LOL
O Brasil é e está na África Lusofona! Por que Angola, Moçambique , Guiné, não fazem mais Escola de Comando e Estado Maior em Portugal? Porque escolheram fazer no Exército Brasileiro! É um exemplo apenas, há mais coisas...
Sim, há mais coisas, para além das paranóias militaristas...
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