Os resultados destas Eleições
Legislativas vieram uma vez mais evidenciar o crescente fosso entre a “bolha
mediática”, em que vive a generalidade dos nossos jornais, rádios e televisões,
e o país real. No meio século da instituição do nosso regime dito “democrático”
e numa época em que cada vez mais se fala da “crise dos media”, eis o que nos
deveria fazer pensar. Pela amostra, porém, tudo ficará mais ou menos
como antes.
Semana após semana, foi-se
criando um cenário que desabou por completo com os primeiros resultados
eleitorais. Afinal, nunca houve nenhuma verdadeira disputa entre Luís
Montenegro e Pedro Nuno Santos. Apesar do primeiro nunca ter explicado plenamente
a origem da sua fortuna pessoal, do outro lado tínhamos alguém que, afinal,
tinha adquirido o seu património imobiliário com a fortuna da sua família. Imaginar
que o país real estaria mais próximo de Pedro Nuno Santos do que de Luís
Montenegro só pode mesmo derivar de um completo desconhecimento do país real.
O mesmo se diga sobre os crescentes
resultados do partido “Chega”. Semana após semana, mês após mês, a nossa “bolha
mediática” falou de um inevitável declínio deste partido, como se não fosse já
evidente que o “Chega” tem uma sólida base eleitoral. Espanta, aliás, que ainda
não tenha sido feito um estudo sociológico a evidenciar isso mesmo. Querem uma
dica? Analisem a grande coincidência eleitoral entre a população portuguesa que,
directa e indirectamente, foi vítima da nossa descolonização dita “exemplar” e
o número de votantes nesse partido.
Essa questão é, de resto, a nosso
ver, um dos símbolos maiores do crescente fosso entre a “bolha mediática”, em
que vive a generalidade dos nossos jornais, rádios e televisões, e o país real.
Ano após ano, década após década, foi-nos garantido que o processo da nossa
descolonização tinha sido de facto “exemplar”. Quem viveu de perto todo esse
processo sabe bem, porém, que tudo isso é falso, absolutamente falso. Os
nossos programas de “verificação de factos” nunca falaram, obviamente, disso. O
que, convenhamos, é até compreensível: há alegados “factos” que são de tal modo
falsos que não são infirmáveis em programas de “verificação de factos”. Eles
rebentam, de uma ponta a outra, toda a “bolha mediática” das nossas últimas
décadas.
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