Sobretudo em Portugal, mas não
apenas, é recorrente falar-se das crise dos “media” – em particular, dos
jornais, mas também das estações de televisão e de rádio. De tal modo que se
chega a exigir o apoio do Estado, na premissa de que os “media” são essenciais
para o bom funcionamento da nossa democracia.
Para nossa perplexidade,
raramente ouvimos os “media” a questionarem-se porque estão de facto em crise –
mais concretamente, porque cada vez mais gente não recorre aos “media”
habituais para se informar sobre o país e o mundo.
A recente vitória de Donald Trump
nas eleições presidenciais nos Estados Unidos da América poderia ser um bom
ponto de partida para esse pertinente e necessário questionamento. Semana após
semana, mês após mês, os “media” em Portugal anteciparam a derrota de Trump. Na
véspera das eleições, ouvimos até alguém vaticinar, numa televisão “de
referência”, que Kamala Harris iria ganhar com “grande vantagem”.
Poderia ser mas não será, como já
se esperava. Ninguém fez “mea culpa” pelos seus vaticínios e, já no rescaldo
das eleições, alguém, noutra televisão “de referência”, garantia que Trump
havia ganho as eleições porque o seu eleitorado “vivia numa bolha”. Excelente
explicação: cerca de oitenta milhões de norte-americanos vivem numa bolha! Se,
ao menos, tivessem seguido a cobertura das eleições pelos “media” em Portugal…
Como é cada vez menos
indisfarçável, quem vive cada vez mais numa “bolha” são os nossos “media”. E,
por isso, sobretudo quanto aos temas internacionais, cada vez menos gente
recorre aos “media” portugueses. Falamos por nós: se tivéssemos seguindo as
eleições norte-americanas apenas pelos nossos “media”, jamais poderíamos ter
previsto os resultados que se verificaram. Como não foi de todo o caso, não
ficámos minimamente surpreendidos. Como, de resto, já acontecera muitas vezes
no passado, noutras eleições para além das nossas fronteiras.
Como, porém, a explicação que se
tem dado é que foram os eleitores norte-americanos que se enganaram – não, de
todo, os “media” em Portugal –, nada irá decerto mudar. Em próximas eleições,
teremos o mesmo coro de jornalistas e/ ou comentadores a dizerem exactamente o
mesmo que disseram a respeito destas. E depois ficam muito espantados com o
facto de cada vez menos gente os ouvir. É no que dá viver numa “bolha”:
confundimos o mundo com a nossa própria sombra…
Renato Epifânio
2 comentários:
Roberto - Concordo plenamente com este texto publicado sobre os média portugueses.
Sem dúvida - tanta negação à Verdade...
Feliz 2025.
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