O aumento dos casos de covid-19 na metade indonésia da ilha de Timor está a causar “grandes preocupações” às autoridades timorenses que temem eventuais contágios, disseram responsáveis. Nas últimas semanas registou-se um aumento significativo de casos em Timor Ocidental, com mortes de pessoas infectadas com covid-19 em locais como Atambua, a poucos quilómetros da fronteira com Timor-Leste.
Uma situação preocupante para toda a zona fronteiriça, mas especialmente para o enclave de Oecusse-Ambeno, onde só nos últimos dias foram capturadas mais de 90 pessoas em transações e movimentações ilegais nas fronteiras, disse à Lusa o presidente da Região Administrativa Especial Oecusse-Ambeno (RAEOA), Arsénio Bano.
“Os casos estão a aumentar de dia para dia em Timor Ocidental e estão cada vez mais perto. Agora já há casos muito próximo da fronteira na zona de Oesilo, num dos subdistritos de Kefa [Timor Ocidental]”, afirmou Bano. “E em Atambua não há boas notícias. Estamos cercados e estamos a fazer o possível, com vigilância máxima, porque o contágio comunitário já está em pleno em Timor Ocidental”, admitiu o responsável, expressando preocupação.
O vice-ministro do Interior timorense, António Armindo, disse à Lusa que desde o início do ano, pelas várias vias, entraram no país quase 380 pessoas, das quais cerca de 100 ilegalmente pela fronteira terrestre, na maioria estudantes ainda em quarentena.
“Temos de gerir isto com muito cuidado porque temos medo de transmissão comunitária. Evitar isso implica apelarmos a todos os que vivem fora de Timor-Leste para que entendam que travessias ou movimentos ilegais não são a opção certa”, salientou.
“Se amam Timor-Leste, a população das fronteiras, as suas famílias, organizem com os nossos consulados, registem-se para que o MNE possa falar com o Ministério da Saúde para ver se os podemos receber. E depois o Ministério do Interior pode abrir as portas”, sublinhou.
Sem referir o dispositivo de patrulhas fronteiriças, por questões de segurança, o vice-ministro disse notar um reforço da acção conjunta da polícia e forças armadas.
“É por isso que estamos a detetar estes ilegais. Mas tem de haver colaboração de todos. Todos têm de ter consciência de que não podemos fazer isto. Temos que fazer entradas legais para que o Governo possa gerir a situação”, destacou.
A sensibilização envolve também chefes de aldeia, de suco (equivalente a freguesias) e jovens, para que “ajudem na segurança, informando de movimentos ilegais”.
O responsável da RAEOA explicou que na província de Nusa Tengarra Timur, que inclui a metade indonésia da ilha, há atualmente quase dois mil casos ativos, com um total de 114 mortos desde o início da pandemia.
As autoridades iniciaram já em meados deste mês a vacinação de trabalhadores da linha da frente dos serviços de saúde em Kupang, a capital de Timor Ocidental, programa que vai ser agora progressivamente alargado.
“Eles também estão em pânico. As populações, os serviços de saúde, que já estão sobrecarregados. Por isso, aqui em Timor-Leste temos que ter o máximo cuidado”, sublinhou.
Um dos sinais do perigo evidenciou-se na última semana com 14 casos positivos, 11 timorenses e três estrangeiros, entre um grupo de cerca de 120 pessoas, muitos dos quais estavam há semanas em Timor Ocidental e que entraram em 20 de Janeiro.
A resposta à ameaça e à pandemia envolve actualmente mais de 700 pessoas entre efectivos da Unidade de Patrulhamento de Fronteira (UPF), funcionários de saúde e vigilantes fronteiriços. O dispositivo acabou de ser reforçado e procura responder ao número elevado de pessoas que atravessam ilegalmente para a Indonésia, nomeadamente para trocas comerciais.
Uma prática antiga para as populações das zonas fronteiriças, que Bano admitiu ser necessária para quem passa dificuldades, mas que na grande maioria dos casos envolve “oportunistas que colocam em risco a saúde pública” de toda a população.
“Quem é capturado é levado de imediato para a quarentena, onde já temos actualmente quase 100 pessoas. Há alguns com dificuldades, mas também há oportunismo. Não temos pessoas suficientes e eles aproveitam-se disso”, notou.
Arsénio Bano disse que estão a ser construídos novos espaços de quarentena, esperando ter mais 60 quartos em breve, e zonas de triagem nos locais mais usados na fronteira.
“A situação em Timor Ocidental vai continuar e a nossa única opção é a prevenção. Triagem, evitar contactos com famílias e comunidades e canalizar quem atravessa a fronteira diretamente para a quarentena”, disse.
A autoridade regional está igualmente num processo de reforço das condições do hospital, com ventiladores, medicamentos e consumíveis médicos, reforçando as condições de isolamento e outros serviços.
O presidente da RAEOA disse que a ministra da Saúde timorense, Odete Belo, vai enviar uma equipa “para fazer a avaliação rápida do que é necessário com mais urgência em Oecusse”, especialmente a nível da prevenção.
“Mas recomendo que o Governo central olhe para as outras fronteiras terrestres, nas zonas de Maliana e Suai, porque o risco é o mesmo. Há que actuar para prevenir qualquer contágio comunitário”, disse.
Timor-Leste tem actualmente 17 casos activos no país, com um total de 67 casos desde o início da pandemia, dos quais 50 recuperaram. A deteção de três casos positivos entre pessoas que entraram ilegalmente em Oecusse em dezembro levou à aplicação até meados desde mês de uma cerca sanitária na região.
O país está actualmente no nono período de 30 dias de estado de emergência, com restrições à entrada e quarentena obrigatória, entre outras medidas. O Governo pediu já ao Presidente timorense a renovação do estado de excepção por mais 30 dias até ao início de março. O Ministério da Saúde adiou indefinidamente um programa de testes em massa, que devia começar hoje. António Sampaio – Agência Lusa in “Hoje Macau”
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