No dia 5 de Maio, os países que têm o português como língua nacional comemoraram pela primeira vez o Dia Mundial da Língua Portuguesa, proclamado pela UNESCO, que é uma sequência, proposta pelo embaixador de Portugal naquele organismo das Nações Unidas, o professor catedrático da Universidade de Lisboa António Sampaio da Nóvoa, do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, criado em 2009
O evento foi assinalado com a importância merecida, não só oficialmente pelos Governos dos países fundadores - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste - como pelos principais órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros. E isto porque a importância desta celebração não confinava nas restritas fronteiras histórico-culturais daqueles países, pois o seu valor global - político, económico e linguístico - estava implícito no facto de a CPLP significar a quarta língua mais falada no mundo (265 milhões de pessoas), a primeira no hemisfério sul e a sua economia valer perto de 2700 milhões de euros, ou seja, se fosse um só país, a sexta maior economia do mundo.
Falando de valores, e das muitas especificidades que os definem - económicos, culturais, humanísticos, civilizacionais, etc. -, há uns que valem por si próprios e outros que interagem como se fossem duas faces da mesma moeda. Os primeiros são de ordem ética ou estética, como o sentido da moral ou do belo com que se elabora uma crença ou admira uma obra de arte; os segundos são de ordem utilitária ou ambicionária, como o sentido do negócio ou do lucro com que se sobrestima o valor de um produto e subestima o valor do trabalho que o produziu.
Num mundo em que tudo se compra e tudo se vende, e cujo valor é determinado pelo uso e durabilidade, a Língua, falada, escrita ou gestual, é o único bem que nunca acaba, uma riqueza cada vez maior, quer pertença a uma pessoa, um povo ou uma nação. Pode um indivíduo ser rico em dinheiro, terra ou imobiliário; pode um país ser rico em petróleo, gás, ouro, diamantes ou matérias-primas. Mas tudo isto não dura sempre e pode acabar quando menos se espera, porque se deteriorou, perdeu ou esgotou.
Empregando um termo economicista, poderíamos dizer que a Língua é um capital fixo, sequer de risco, porque vale por si própria: pluricêntrica por natureza comunicativa, pluridimensional por aptidão; epistemologicamente divagando, a Língua é, para o homem, um instrumento de comunicação sem criador, que se fez fazendo a partir de uma necessidade vital, como a de ver ou ouvir, para melhor viver, usando a palavra, o clique ou o gesto para exprimir um desejo ou sentimento.
Com este capital, Eu faço do Outro, que era desconhecido, meu irmão, e os povos que usam a mesma língua podem fazer do mútuo conhecimento e fraternidade uma plataforma de resistência e armação perante todas as adversidades que surjam num momento, numa época ou num mundo aberto a toda a espécie de competições e rivalidades.
O português nasceu em Portugal, como o latim nasceu na antiga Roma, mas globalizaram-se (como outras línguas) pela transposição em várias partes do mundo por efeito de conquistas e apropriações. Quando estas chegaram ao fim, as línguas ali deixadas perderam o sentido e o direito de propriedade. Certo, hoje, a língua é de quem a fala e como a fala.
O que de uma identidade linguística comum aos países lusófonos, com os seus valores naturais - geográficos, geológicos, climatéricos, ecológicos -, se pode extrair como força política, económica e cultural tem de ser desígnio e meta dos países da CPLP, para emparceirarem com aqueles que se outorgam o poder de governar o mundo e reger a humanidade. Leonel Cosme – Portugal in “Novo Jornal” - Angola
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