No nosso anterior artigo deixámos a pergunta se haverá esperança para a humanidade perante um futuro tão incerto e turbulento. Somos de opinião que sim. Poderá haver esperança se o ser humano se esforçar em alterar a direção que atualmente está tomando. Foi feita a comparação entre a incidência das religiões nas diferentes sociedades, tanto no Ocidente como no Oriente, e concluímos que nas comunidades humanas portadoras de avanço tecnológico e com avançado índice de qualidade de vida em comparação com outras comunidades localizadas, nomeadamente em África e no Médio-Oriente, caracterizadas pelo profundo e atrasado ruralismo, essas mesmas sociedades evoluídas são onde os verdadeiros valores morais tendem a desaparecer, precisamente onde as religiões são postas num plano secundário e até marginalizadas. As presentes crises do capitalismo que estão ocorrendo em diferentes partes do mundo ir-se-ão acentuando e assumindo formas cada vez mais complicadas à medida que o tempo vai decorrendo, tendo sido por nós afirmado que a queda do capitalismo vai ser muito mais estrondosa e dramática do que foi a que assistiu à derrocada do comunismo soviético. Afirmámos de que as comunidades rurais têm na sua maioria possibilidades de maior capacidade de sobrevivência perante uma sociedade dotada de alta tecnologia, e com altos índice de qualidade de vida, mas dependente das condicionantes financeiras e económicas que o dogmatismo capitalista impõe de forma dura e cega.
Convém aqui lembrar um ilustre português nascido em Trás-os-Montes, mas que muito jovem emigrou para o Brasil e mercê da sua capacidade de trabalho e de inteligência soube triunfar na vida conseguindo apurar uma importante fortuna que o guindou a altas estâncias da sociedade brasileira. Homem de carácter íntegro, que devido à sua acção se tornou um ativo escritor e jornalista, tendo desenvolvido importantes ações no sentido da libertação dos escravos (ano de 1888), desenvolvendo igualmente importantes obras de beneficência e de filantropia. Há contudo a evidenciar nas suas múltiplas ações o facto de ter sido um profundo estudioso e investigador sobre os mistérios que envolvem a origem, natureza e fins da existência do ser humano como ser vivo e actante. Dedicou-se em profundidade ao estudo do espiritualismo humano nas suas diferentes vertentes, apoiando-se nos estudos científicos realizados por um notável médico brasileiro, de nome António Pinheiro Guedes, baseados no estudo e desenvolvimento da então emergente ciência da Espiritologia, nomeadamente na sua vertente espiritista. Esse mesmo trabalho de investigação está consubstanciado no livro de Pinheiro Guedes, designado Ciência Espírita (ano de 1900).
A esse ilustre trasmontano, nascido na então Vila de Chaves (Trás-os-Montes), hoje cidade, foi dada o nome de Luiz José de Moraes Mattos Chaves Lavrador (Luiz de Mattos para os amigos e conhecidos).
Luiz de Mattos foi o fundador e codificador no Brasil de uma doutrina espiritista e espiritualista, denominada Espiritismo Racional e Científico Cristão, que na atualidade tem a designação de Racionalismo Cristão. Trata-se efetivamente de uma doutrina fundamentada nos ensinamentos de Jesus, o Cristo, mas de sólida base racional e científica, abstraída de qualquer componente religioso ou místico. Esta doutrina racionalista cristã está profundamente imbuída de história, filosofia e cultura portuguesas, sendo o seu patrono o notável português Padre António Vieira. Fundamentados no Mito do Quinto Império, defendido por António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, expressa de maneira inconfundível a alma de Portugal.
É possível que esta mesma doutrina seja uma expressão do pensamento filosófico e espiritualista do povo português quando nos referimos à terceira e última missão de Portugal no mundo, contida na visão iniciática pessoana (poema Mensagem). Provavelmente, poderá ser uma janela que se abre para uma nova perspetiva da vida e aí o sistema capitalista que na verdade governa o mundo através do seu “dinheiro” possa acalentar alguma esperança de não vir a sofrer a terrível derrocada a que fatalmente estará destinado.
O capitalismo vigente poderá vir a humanizar-se, desenvolvendo vertentes onde a socialização comece a merecer foros de dignidade no mundo do trabalho, onde o trabalhador veja o produto do seu trabalho equitativamente compensado, havendo por parte do empresário, do industrial, do comerciante ou do capitalista menos ganância e um maior sentido de justiça na repartição da riqueza! São os empresários de todo o mundo que terão de dar o primeiro passo no sentindo de abdicarem um pouco do grande “naco” dos lucros dos grandes ou pequenos negócios que vão realizando; cabe às grandes multinacionais, aos importantes grupos bancários e financeiros que abdiquem um pouco dos seus largos lucros. Cabe a estes em especial alterarem o terrível e fatal destino a que a humanidade a médio prazo está fadada. E depois aos políticos que deixem de ser oportunistas e corruptos na sua nobre missão de orientar a humanidade no caminho certo da evolução material e espiritual.
Está o caminho aberto para que todos nós, sem exceções, possamos parar, refletir e passar a olhar o mundo com realismo, verdade e com espírito solidário para com o nosso semelhante, certamente que o mundo se tornará melhor e novas perspetival de vida irão surgir para o ser humano.
Jacinto Alves
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