A tarefa do Syriza era,
decerto, bem mais do que hercúlea, mas, passados todos estes meses, não é menos
certo que o Syriza cometeu todos os erros possíveis e imaginários para chegar à
capitulação final.
Sendo a dívida grega ainda
mais impagável do que a portuguesa, havia, à partida, dois caminhos possíveis:
manter uma relação empática com os credores, na premissa de que “as dívidas são
para gerir, não (realmente) para pagar”, ou afrontar os credores o mais
possível.
O Syriza escolheu, legitimamente,
o segundo caminho, mas de forma desastrada. Antes de mais, esse só poderia ser
um caminho viável se o Syriza tivesse garantido apoios junto de outros
Governos, desde logo de países do sul. Como manifestamente não conseguiu, não
deveria sequer ter dado o primeiro passo nesse sentido. A menos, claro está,
que estivesse disposto a dar o passo final de “saída da zona euro”.
Cheguei a pensar que esse
seria o plano final, o único que daria sentido ao caminho trilhado nestes
últimos meses. No momento da verdade, porém, o Syriza capitulou por completo,
aceitando tudo o que até então disse recusar. Nunca nestes últimos anos houve,
no espaço europeu, uma capitação tão estrondosa.
E que ninguém diga aqui que há
opções inevitáveis. Mesmo com uma arma apontada à cabeça, uma pessoa pode
sempre dizer que não (e muitas pessoas o fizeram ao longo da história). Com
povos, decerto, a questão é bem mais complexa. Mas a “saída do euro” não
significaria a morte do povo grego. Seria, com certeza, uma decisão com consequências
mais gravosas no imediato, mas não seria, de todo, a morte do povo grego.
Poderia até ser o passo necessário para uma real recuperação económica a
médio-longo prazo.
Tendo escolhido manter-se na
zona euro, esse cenário nem sequer se põe. Como já mil e um economistas
denunciaram, a zona euro foi estruturalmente construída para agravar as
desigualdades entre os países mais ricos e mais pobres. Até há algum tempo,
ainda apareciam uns quantos “federalistas” a defender que essa lógica poderia e
deveria ser contrariada por compensações financeiras inter-estaduais, como
acontece nos Estados Unidos da América. Mas, hoje, já (quase) toda a gente
percebeu que o federalismo europeu é uma farsa.
Em suma, o Syriza não deveria
ter arrastado as negociações durante mais de seis meses, para mais conduzidas
por um Ministro das Finanças errático, egomaníaco e megalómano. O referendo a
que, no final, submeteu o povo grego revelou-se igualmente uma farsa: não se
pode induzir o povo a votar não à austeridade quando se antecipa que se terá
depois que a aceitar, em dose reforçada. Chegar às negociações decisivas já com
os bancos fechados é, aí sim, negociar com nenhuma margem de manobra. Com
tantos deuses gregos em que se inspirar na arte da negociação e do compromisso,
custa ver, com efeito, como o Syriza cometeu todos estes trágicos erros.
3 comentários:
não foi o ministro das finanças que forçou e convocou o referendo foi o 1º ministro, é bom que se saiba isso de forma a não culpabilizar Varoukis por acções de que não é responsável,
Que se saiba, não foi contra...
Saudações
Renato Epifânio
Tudo isto foi excelente para... mostrar a impotência de qualquer país se pretender fazer frente ao status quo?
Como de costume gostei muito do que escreveste.
Contudo ainda não tenho opinião formada acerca desta cena política toda.
Abraço MIL
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