Um estudo hoje apresentado em Bissau revelou várias fragilidades no sistema educativo público da Guiné-Bissau, notando que sem correções o país poderá ter dificuldades em promover o desenvolvimento.
O estudo realizado em 2014 pelo Governo guineense, em colaboração com as agências das Nações Unidas, UNICEF e a UNESCO, visou evidenciar os pontos fortes e as fragilidades do sistema educativo e ao mesmo tempo propor medidas de solução.
A instabilidade política, vulnerabilidade social e económica, fraco parque escolar e mal distribuído, abandono escolar precoce, alto nível de reprovações dos alunos, magro salário dos professores e escolas distantes das comunidades, estão entre as fragilidades.
Por outro lado, cerca de 44% das crianças que deviam estar cumprir a escolaridade obrigatória estão fora do sistema e 63% das despesas correntes com a educação das crianças guineenses são suportadas pelos pais.
O Estado apenas paga os salários aos docentes, deixando de lado as suas outras responsabilidades com o sistema educativo, assinala o estudo que agora está a ser discutido por técnicos da Educação e peritos das Nações Unidas.
O exercício conclui que a Guiné-Bissau é afetada por uma pressão demográfica que leva ao aumento da demanda da população pelas escolas que, por sua vez, tendem a escassear cada vez mais.
Cerca de 22,7% de guineenses estão na idade de frequentar o ensino básico, ou seja, dos seis aos 14 anos.
Em 2013, o Estado apenas dedicou 11,4% do seu orçamento para o sector da Educação, o que se situa "muito abaixo" da dotação noutros países com o mesmo nível de pobreza da Guiné-Bissau, revela ainda o estudo.
Nestes países, com o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante não superior aos 800 dólares (730 euros), o Estado gasta em média 23% do orçamento com o sector da Educação, acrescenta.
Para se ter uma ideia do nível de aprendizagem nas escolas públicas, o estudo avaliou mais de dois mil alunos do segundo e quinto ano escolhidos de forma aleatória para testar os seus conhecimentos em Matemática e Língua Portuguesa.
O resultado médio alcançado pelos alunos do segundo ano a Português foi de 48,1 em 100 pontos e 49,8 em 100 a Matemática.
O mesmo teste foi submetido aos seus professores que também apresentaram dificuldades para responder às perguntas.
"No segundo ano, seja em Português ou Matemática, os professores não conseguem responder corretamente a cerca de 10% das perguntas colocadas aos alunos", lê-se nas conclusões do estudo.
Refere ainda que a Guiné-Bissau regista "um dos mais baixos níveis de escolarização" ao nível africano, tendo em média um individuo ativo ocupado no mercado de trabalho um nível de estudo inferior ao quarto ano do ensino primário.
Apenas 10% dos trabalhadores guineenses tiveram 10 anos de estudos completos durante a juventude, o que faz com que possam ser considerados alfabetizados na fase adulta, sublinha o estudo, dando o exemplo dos avanços registados em São Tomé e Príncipe.
"Para tirar o país da pobreza e caminhar para um arranque económico devem ser feitos esforços a médio prazo (...) para se aproximar do que se observa em São Tomé e Príncipe onde o acesso à educação é quase universal", relata o estudo.
Diário Digital com Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário