O que levará mais de meia
centena de pessoas – das mais diversas gerações – a estarem mais de três horas,
até à 1 da manhã, a discutir o futuro de Portugal?
Decerto, o estarem preocupadas
com o estado do país. Se não estivessem, se não considerassem que vivemos uma
grave crise – porventura, uma das crises mais graves da nossa já longa história
–, não iriam, com toda a certeza, ocupar dessa forma o serão de uma
sexta-feira.
Mais ainda do que essa
preocupação – pertinente e justificada – com o estado do país, o que essa
mobilização denota é esperança, apesar de todos os sinais em contrário. Se não
houvesse, apesar de tudo, esperança no futuro de Portugal, ninguém teria estado
no Club Setubalense na noite de 10 de Abril.
A sessão foi promovida pelo
Movimento “Nós, Cidadãos” e teve como oradores Rui Rangel, João Gil Pedreira e
Mendo Castro Henriques, Porta-Voz do mais recente partido político português. O
mote foi “Resgatar Portugal” e as diversas intervenções tiveram sempre esse
horizonte em vista, ainda que o foco tivesse sido diverso. João Gil Pedreira
contrapôs, ao resgate dos Bancos, o mais fundamental resgate das Famílias e das
Empresas – porque só assim teremos futuro. Sim, as pessoas, os cidadãos
primeiro!
Foi uma intervenção tecnicamente
muito sustentada, em que se fez uma retrospectiva das razões da crise
financeira que nos assola – salientando-se o papel da “bolha imobiliária”, que
levou a que muitas das habitações entretanto compradas através de empréstimos
bancários se tenham desvalorizado abruptamente, sem que o valor desses
empréstimos se tivesse alterado na mesma medida. Ou seja, com esta crise,
muitos de nós ficámos reféns dos Bancos.
Apesar do registo
necessariamente mais técnico, a assistência seguiu com atenção as palavras de
João Gil Pedreira – prova de que nem todos seguem os caminhos mais fáceis,
demagógicos e populistas. Antes do muito participado período de debate, falaram
ainda Mendo Castro Henriques e Rui Rangel. Também sobre a necessidade de
“resgatar Portugal”, mas aqui extravasando a área estritamente económica e
financeira. Rui Rangel dissertou, de forma eloquente, sobre o imperativo de
“resgatar Portugal do nosso sistema político”, que tem impedido que os cidadãos
possam realmente fazer ouvir a sua voz.
Não sabemos se o “Nós,
Cidadãos” será capaz de tão ambicioso desiderato. Sozinho, decerto não será.
Mas poderá ser o primeiro passo de um longo caminho que levará a que todos nós,
cidadãos, possamos estar bem melhor representados na Assembleia da República e
participar muito mais na definição do nosso futuro colectivo. Se isso tivesse
acontecido no passado, com certeza que não teríamos chegado a esta situação.
Para sair dela, é imperioso que isso passe a acontecer. Como não se cansa de
reiterar Mendo Castro Henriques, muito mais que um nome, “Nós, Cidadãos” é todo
um Programa. Oxalá se cumpra, por Portugal!
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