O Ceará Quilombola Que Ninguém Quer Ver
Cristina Couto
No ano de 2006, quando tive a
oportunidade de trabalhar na Vice Prefeitura de Fortaleza, me deparei com um mundo
completamente desconhecido: as comunidades negras do Ceará. Uma realidade
esquecida pela sociedade, pelas entidades que a representam e por nossos
governantes.
É verdade que no principio do governo
do PT, em 2003, uma pequena luz se acendeu no fim do túnel, clareou um raio de
esperança no coração dessa raça que tanto contribuiu e contribui para a
economia e cultura brasileira, mas não passou de um facho de luz, de relâmpago
que vez por outra surge e rapidamente desaparece no horizonte.
A luta do movimento negro tem sido útil,
mas não suficiente para o combate à discriminação racial e a injustiça social
da qual seu povo é submetido.
O sentimento de injustiça e
desconfiança é muito forte dentro de um grupo que historicamente amargou tanto
sofrimento através da violência, e poucos são os seus representantes no cenário
político nacional.
Refiro-me a alguém que
possa dar voz e vez àqueles que até hoje continuam calados frente a tanta injustiça
e desigualdade social, resquício da “Herança Maldita” que se arrasta por
séculos.
Elaborei, na época, o Projeto Ceará Quilombola, fornecendo
subsídios para a construção de caminhos no avanço da luta pelos direitos do
povo afrodescendente, com o objetivo de devolver a essa raça a estrutura que
lhes foi negada.
Pesquisando e registando as
cinquenta e nove Comunidades em vinte e sete municípios cearenses, a maioria
sem o menor conhecimento da sua representatividade e vivendo da agricultura,
pude constatar as suas péssimas condições.
A visita as
Comunidades Quilombolas me mostrou que é possível superar desafios e sonhar com
vários caminhos, trilhando sem desistir diante das barreiras. Isso me mostrou
também o descredito da sua gente, já cansada de tanta exploração, de tantos trabalhos,
seminários, congressos que nada resolvem.
As Comunidades Quilombolas querem e merecem
mais, querem descobrir o que restou dos costumes e hábitos antigos, a quem
pertence o legado do saber no convívio com a natureza, e quantos são na
realidade os seus integrantes, e as suas comunidades espalhadas pelo Ceará.
O conhecimento da história dos afrodescentes, no Brasil, sugere a
formação de uma consciência crítica sobre os problemas e possíveis soluções
para a raça negra, com objetivo de devolver a esse povo a alta estima e a sua importância
no cenário político, social e cultural do Brasil.
Os governos precisam elaborar ações conjuntas
que orientem, informem e ofereçam facilidades para o processo de
desenvolvimento do Movimento e das Comunidades Quilombolas.
Vamos deixar o blá-blá de lado e partir para
o concreto, com
uma proposta de trabalho que sirva
de elo entre os órgãos competentes, o movimento negro e as comunidades
quilombolas, buscando os benefícios sociais, resgatando a cidadania e
devolvendo ao povo a identidade perdida.
Esse resgate histórico será importante para
todos os Quilombolas e suas comunidades percebam e conheçam a sua realidade e a
sua identidade, e possam se orgulhar da sua negritude.
O maior patrimônio de
um povo é a sua história de luta e de resistência; é a história do seu passado
e sofrimento e de conquistas que valem o seu sentimento de libertação.
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