A povoação de Moçâmedes foi fundada num oásis situado na Angra do Negro. Começou por ser um presídio para degredados.
O clima era benigno e havia terras férteis. Existiam no Brasil, nessa altura como noutras, portugueses na miséria. Viviam-se tempos de agitação social e a colónia lusitana de Pernambuco era hostilizada. Bernardino Abreu e Costa, miguelista exilado em Pernambuco, dispôs-se a dirigir uma colónia agrícola. O governo de Lisboa precisava de brancos em Angola e proporcionou-lhes meios de transporte. A barca “Tentativa Feliz”, protegida pelo brigue “Douro”, fundeou em Moçâmedes em 1849 trazendo perto de 180 portugueses, entre homens, mulheres e crianças.
A instalação dos colonos processou-se com alguma dificuldade. Mesmo assim, como a crise social em Pernambuco se agudizava, em Novembro de 1850 desembarcaram mais 107 emigrantes. A vila de Moçâmedes foi construída junto à praia, de acordo com um plano simples e geométrico. Quatro ruas paralelas entre si eram cortadas por travessas e formavam quarteirões regulares. No final do século XIX já havia iluminação a petróleo. As casas, de um só piso, tinham quase todas quintal.
Os habitantes de Moçâmedes aproveitaram os terrenos de aluvião das margens dos rios Bero e Giraúl. Giraúl quer dizer “fim do caminho”. Eram terras férteis mas escassas. Caminhando durante uma hora, chegava-se às Hortas, na margem do rio Bero. O Bero era também chamado Rio dos Mortos. Morto era ele. Só corria no tempo das chuvas. No resto do ano era preciso cavar buracos na areia para alcançar água. O sítio tinha muita vegetação. A gente das Hortas vivia da produção de aguardente. Dispunha de plantações de cana-de-açúcar, de máquinas de moagem e de alambiques. A técnica fora trazida do Brasil.
Abundavam as árvores de fruta. Viam-se lindos pomares de laranjeiras e pessegueiros. A pereira e a macieira também se davam bem. As oliveiras desenvolviam-se, e havia algumas vinhas de bacelo.
Para Leste, numa distância de cem milhas, a terra elevava-se progressivamente até alcançar a uma parede sólida com mais de mil metros de altura. Era a serra da Chela. No alto, o terreno fazia-se plano e o ar refrescava.
Na zona entre a serra e o mar vivia uma população dispersa de gentios. Viam-se nas ruas da vila. Vinham comerciar. Vendiam peles, galinhas, ovos e mel. Compravam panos, missangas e vinho.
Não dispondo de mais espaços de cultura, os colonos desenvolveram o comércio e a pesca. O mar era rico em peixe. Não era possível consumi-lo todo. Os pescadores salgavam-no e punham-no a secar em grades, ao sol. Depois acondicionavam-no em fardos que os comerciantes vendiam aos negros do planalto. A vila foi progredindo.
Os de Moçâmedes exportavam gado para longe. Não o criavam, porque não havia pastos na região. Recebiam-no dos negociantes que o compravam no interior.
Ali chamavam funantes aos que andavam pelo mato a comerciar. Aquela gente ia a toda a parte. Deixava as cidades costeiras, subia as margens dos rios secos e, às vezes, fixava-se. Havia povoações espalhadas por uma grande área do interior. Um grupo de pescadores algarvios estabeleceu-se em Porto-Alexandre, mais a Sul, na costa deserta.
Que eu saiba, na História da colonização portuguesa, Moçâmedes foi a única cidade portuguesa desenvolvida por colonos repetentes, por gente de torna-viagem.
Referências:
Moraes, J.A. da Cunha, Álbum photographico e descriptivo, África Occidental. David Corazzi Editor, Lisboa, sem data.
Trabulo, António. Os Colonos, Esfera do Caos, Lisboa, 2007.
Fotografias: Moraes, J.A. da Cunha, Álbum photographico e descriptivo, África Occidental. David Corazzi Editor, Lisboa, sem data.
2 comentários:
Excelente entrada...
Abraço MIL
Belo texto!
Venham mais...
Abraço lusitano!
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