Entrevista à Deutsche Welle sobre a situação da Guiné-Bissau
O Movimento Internacional Lusófono (MIL) entende que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desistiu da Guiné-Bissau, facto que repudia, mas garante: “Nós não desistimos”. O Presidente do MIL, Renato Epifânio, não vê com satisfação o caminho que a CPLP segue…
DW: A CPLP está a lidar com a crise guineense da forma que deveria?
Renato Epifânio (RE): É preciso que a própria CPLP aja de uma forma mais afirmativa aos mais diversos níveis. Na Guiné-Bissau, promovendo uma cooperação mais próxima, mais presente, de modo a que estes desrespeitos pela Lei Constitucional não ocorram. Essencialmente, apelamos a que a CPLP se envolva mais…
DW: Lançaram uma petição onde exigem maior contundência à CPLP, mas a organização é desprovida de poderes políticos. Que resultados esperam de quem por essência não vos pode oferecer nada?
RE: A CPLP é gerida pelos diversos governos, portanto, a CPLP fará o que os governos, que têm o real poder, decidam o que a CPLP possa fazer. Sabemos que a CPLP, no actual contexto, na actual orgânica institucional, é um mero secretariado executivo, sabemos isso, mas o que nós defendemos é que a CPLP se altere, para assim poder corresponder a esses anseios e de toda a sociedade civil lusófona. É preciso dar mais meios para que a própria CPLP possa responder ao que se está a passar. Imagine que a CPLP tivesse acompanhado, passo a passo, de forma minuciosa, todo o processo eleitoral que ocorreu na Guiné-Bissau – decerto, o que se passou depois não se teria passado.
DW: Os membros da CPLP têm lavado as mãos para o caos que se instalou na Guiné-Bissau... Trata-se de respeito, receio ou indiferença?
RE: Infelizmente, consideramos que há uma indiferença, mais do que isso, que há uma certa desistência da Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau está-se a tornar um caso crónico, sempre em crise, muitas vezes com graves atropelos à ordem constitucional, das mais elementares regras da democracia… Obviamente, isso tem consequências – com os diversos países a assumir a sua frustração, a sua incapacidade de mudar o “statuo quo”. Sabemos que não é Portugal, sozinho, que pode alterar a situação na Guiné-Bissau, até porque isso, obviamente, levantaria fantasmas de neocolonialismos… Terá que ser uma entidade transversal aos diversos países, como é a CPLP, a assumir a condução deste processo. Temos a convicção de que o caminho é esse.
DW: Acha que uma organização como a CPLP se deixa contagiar por petições e iniciativas semelhantes, se considerarmos o seu historial e todo o posicionamento em relação às crises na organização?
RE: A própria CPLP, não, porque não tem capacidade para, autonomamente, se reformar, mas os diversos governos, sim. Se os diversos governos se empenharem mais fortemente na própria CPLP, a situação mudará. A nossa prioridade é essa: sensibilizar a opinião pública em prol desse fortalecimento estratégico da CPLP.
Fonte: https://www.dw.com/pt-002/a-cplp-desistiu-da-guin%C3%A9-bissau/a-75072652










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