A estação britânica afirma que o projeto de edificação de um memorial de evocação da escravatura, vencedor do Orçamento Participativo de Lisboa 2017/2018, "inflamou paixões" na forma como Portugal encara o seu passado colonial, assim como nos efeitos desse passado no presente, sublinhando que o monumento em causa continua por erigir, apesar dos votos dos lisboetas.
A estação britânica BBC escreve na sua edição online que a “primeira tentativa de assinalar
a sua longa história de escravatura com um monumento inflamou paixões na forma como o
país [Portugal] deve confrontar o seu passado colonial e enfrentar o seu presente multirracial”,
referindo-se ao projeto de construção de um memorial à escravatura na capital portuguesa.
Este projeto, pioneiro em Portugal, partiu da Djass – Associação de Afrodescendentes e está previsto que o monumento seja edificado na Ribeira das Naus, local onde as pessoas escravizadas que chegavam a Portugal eram comercializadas.
No entanto, até ao momento, “o memorial a milhões de vítimas da escravatura continua não só por construir, mas também por atribuir, embora os residentes [de Lisboa] tenham votado em dezembro para o ver erigido”, escreve o jornalista da BBC James Badcock.
A estação britânica refere que “para uma nação que glorifica os seus exploradores e navegadores, examinar o seu passado colonial não é consensual e Portugal tem-se orgulhado tradicionalmente por ser daltónico”.
O mesmo artigo analisa ainda o impacto do passado colonialista português no “racismo moderno”. Citada pela BBC, Beatriz Gomes Dias, realça que o monumento a ser erigido pretende estimular o debate sobre o racismo nos dias de hoje.
“Portugal precisa de reconhecer que a escravatura não é algo que tenha sido apagada no passado. Há uma linha clara entre a escravatura, o trabalho forçado que continuou depois dela, e o racismo que existe hoje na sociedade”, afirmou a presidente da Djass.
A BBC cita também o académico Renato Epifânio e o historiador e escritor João Pedro Marques como exemplos de “analistas brancos portugueses que argumentam que o país não tem um problema com o racismo”, o primeiro por ter afirmado que “Portugal é, provavelmente se não mesmo definitivamente, o país menos racista na Europa”, e o segundo por considerar que “aqueles que estão a fazer campanha contra o racismo querem substituir uma visão tendenciosa dos acontecimentos por uma visão ainda mais tendenciosa”.
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