Conheci José Santiago Naud no
memorável ano de 2006, em que se assinalaram os cem anos do nascimento de
Agostinho da Silva, a nossa maior referência em comum. Essas comemorações
estenderam-se não apenas a Portugal e ao Brasil, mas ainda a grande parte do
mundo lusófono. Um dos momentos maiores dessas Comemorações foi, decerto, o
Congresso Internacional “Agostinho da Silva, pensador do mundo a haver”, que
decorreu entre 15 e 17 de Novembro desse ano, na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, na Universidade Católica Portuguesa, também em Lisboa, e, por fim,
na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cidade onde Agostinho da Silva
nasceu, a 13 de Fevereiro de 1906.
Foi nesse Congresso que
conheci José Santiago Naud e, logo no primeiro momento, fiquei com a melhor
impressão dele. Já o conhecia através de alguns dos seus escritos – em particular,
sobre Agostinho da Silva (falo, desde logo, do texto que havia enviado para a
obra “In Memoriam de Agostinho da Silva: 100 anos, 150 nomes”) –, mas Santiago
Naud é um daqueles casos em que a própria pessoa transcende a obra escrita. Nem
sempre assim é, como sabemos. Nalguns casos, para que a obra não soçobre, o
melhor é nem conhecer o autor. No caso de Santiago Naud, a sua pessoa acaba por
valorizar ainda mais a sua obra.
Reencontrámo-nos meia dúzia de
anos depois, em 2012, na Universidade de Brasília, num Seminário de Homenagem a
Agostinho da Silva e a José Aparecido de Oliveira, o grande mentor
político-diplomático da criação, em 1996, da CPLP: Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa, pessoa que, tal como Santiago Naud, sempre se assumiu como
um discípulo de Agostinho da Silva. Passados já mais de vinte anos sobre a sua
criação, é triste constatar o quanto a CPLP permanece muito aquém do sonho de
Agostinho da Silva, José Aparecido de Oliveira e Santiago Naud, entre tantos
outros. Mas todos nós, a começar por Agostinho da Silva, sabíamos que este era
e é um caminho longo. Por isso, nós, no MIL: Movimento Internacional Lusófono,
não esmorecemos e continuamos a pugnar por esse sonho.
Sendo esse um caminho longo, é
também um caminho largo, que se pode percorrer das mais diversas formas.
Santiago Naud, como sabemos, tem privilegiado a forma poética, já em mais de
uma dezena de livros – falamos, nomeadamente, de Poemas sem domingo (1952), Cartas a Juanila (1953), Noite elementar (1958), Hinos quotidianos (1960), A geometria das águas (1963), O centauro e a lua (1964), Ofício humano (1966), Verbo intranquilo
(1968), Conhecimento a Oeste (1974) e
Dos nomes (1977). Este seu mais
recente livro, Cara de Cão, confirma
esse caminho de uma poesia diríamos “sapiencial”, que remete para uma forma de
ser e estar no mundo. A certa altura, na obra, podemos ler: Cara de cão, cara/ de
quem não leva muito a sério/ o que tem de levar”. Diria Agostinho: “Cara de
quem sabe boiar…”.
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