Caríssimo
Amigo,
Quero felicitar-te pelos teus vigorosos noventa anos
de vida, sem esquecer o título que recebeste igualmente este ano: o de Cidadão
Honorário de Brasília, onde vives desde 1968.
Lamento que em Portugal não tenha surgido nenhuma
iniciativa similar. Sem surpresa, porém. Por cá, esse tipo de títulos só se dá
a quem teve as militâncias certas. Se, por exemplo, tivesses sido estalinista,
ainda te arriscavas a receber a Ordem da Liberdade. Como insistes em ser
leonardino (eles não sabem nem sonham o que isso é…), não tens a menor
hipótese.
Sei, contudo, que não te moves por esse tipo de
ambições. Não te conheço tão bem quanto gostaria, mas conheço-te o suficiente
para saber que és um “homem bom”. E olha que quem o diz não é propriamente a
pessoa mais optimista no plano antropológico.
Conhecemo-nos, tanto quanto me lembro, em 2006, nas
Comemorações do Centenário do Nascimento de Agostinho da Silva, pessoa que ambos
muito continuamos a admirar e que te convidou para seres Professor na
Universidade de Brasília. De então para cá, só nos temos encontrado nos teus
raros regressos à Mátria, decerto bem mais raros do que ambos gostaríamos. Mas sem problema: ainda há muita vida à
nossa frente.
Aproveito a oportunidade para te dizer algo que,
julgo, nunca te disse. Um dos livros mais marcantes na minha formação foi o teu
“Existência e Fundamentação Geral do Problema da Filosofia Portuguesa”
(Editorial Franciscana, 1965). Sobretudo porque tratas o Problema da Filosofia
Portuguesa como deve ser tratado – não como uma “Bandeira” mas como uma “Obra”.
E, por isso, nesse teu livro, tens o cuidado de apresentar muita (e boa)
Bibliografia.
Ambos sabemos, porém, que, tão ou mais importante do
que a Obra feita, é a Obra por fazer. Também aí, tens dado o teu importante
contributo, ainda que sejas avesso a publicações. Não obstante os reiterados
convites, contam-se pelos dedos, por exemplo, os textos que tens publicado na
Revista NOVA ÁGUIA. Sendo que sei que esses textos também não são publicados
noutros sítios. Mas sem problema: ainda há muita vida à nossa frente e a NOVA
ÁGUIA estará sempre disponível para acolher textos teus. Chegámos já ao nº 20
(também sem qualquer reconhecimento institucional), mas contamos chegar muito
mais longe.
Um dia, como é nosso desejo comum, a Pátria Lusófona
cumprir-se-á e honrará, ainda que apenas postumamente, os seus “melhores”.
Ambos, bem o sei, estamos absolutamente certos disso – não por um qualquer
pré-determinismo histórico, apenas, tão-só, porque essa é a Vontade crescente
dessa Fraternidade Lusófona que tu tanto conheces e, sobretudo, tanto amas.
Enquanto esse dia, que ainda parece muito longínquo, não chega, aceita o maior
Abraço deste teu Amigo, extensivo à Márcia.
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