Para uma
análise do contributo de António Braz Teixeira para a sedimentação do que
poderemos definir como a Filosofia Lusófona, tomaremos como universo textual os
seus ensaios publicados, até ao momento, na Revista NOVA ÁGUIA – apenas os seus
ensaios, não outros contributos seus, como recensões. De igual modo, não iremos
aqui ter em conta outro tipo de contributos que António Braz Teixeira tem
prestado à Revista NOVA ÁGUIA – falamos, em particular, de alguns gestos seus
de apoio à Revista, alguns deles muito importantes, senão mesmo decisivos, para
a sua continuidade (foi, por exemplo, António Braz Teixeira quem sugeriu que
Miguel Real integrasse a Direcção da Revista, num determinada fase mais
conturbada, o que teve um efeito muito positivo de pacificação interna).
Fazemo-lo por
duas razões fundamentais – em primeiro lugar, porque a Revista NOVA ÁGUIA é
inequivocamente, no panorama nacional, a publicação que mais tem defendido e
difundido esse conceito de uma Filosofia Lusófona, no universo mais vasto de
uma Cultura Lusófona, ou, se preferirem, de uma Cultura de Língua Portuguesa;
em segundo lugar, porque o contributo ensaístico de António Braz Teixeira para
a Revista NOVA ÁGUIA tem sido uma amostra maior da amplitude e profundidade dos
seus interesses filosóficos e culturais, que denotam uma curiosidade que
assumimos invejar. Tendo o privilégio de conversar frequentemente com António
Braz Teixeira, ficamos, com efeito, muitas vezes impressionados com a
curiosidade dir-se-ia “juvenil” de António Braz Teixeira. Nas mais diversas
áreas da cultura – da filosofia à poesia, do romance ao cinema, do teatro à música,
da pintura à arquitectura –, António Braz Teixeira parece andar sempre à
procura de “coisas novas”.
Isso não o faz,
porém, escamotear o cultivo da nossa memória filosófico-cultural – bem pelo
contrário. Quando não é próprio a fazê-lo, nos seus ensaios, tem sido António
Braz Teixeira, mais do que qualquer outra pessoa, a propor-nos, para a Revista
NOVA ÁGUIA, o tratamento de algumas figuras (não apenas da cultura portuguesa,
mas lusófona em geral), algumas delas, confessamo-lo, para nós à partida quase
que inteiramente desconhecidas. Quase sempre, o pretexto é o assinalar de uma
efeméride (seja do nascimento, seja da morte). Temos até em nossa posse uma
lista, elaborada por António Braz Teixeira, que se estende até 2030, com as
figuras que, em cada ano, mais importará recordar. Como pretendemos continuar
muito para além de 2030, ficaremos pois à espera que, até lá, António Braz
Teixeira estenda essa listagem por, pelo menos, mais três décadas…
Mas
centremo-nos então no nosso definido universo textual, verificando em que
medida António Braz Teixeira tem estabelecido pontes: entre Portugal e o
Brasil, desde logo, mas também com outros lugares do amplo e plural espaço
lusófono; entre a Filosofia e outras áreas da ampla e plural cultura de língua
portuguesa. O primeiro desses ensaios intitula-se “Breve nota sobre Agostinho
da Silva e a ‘Escola de São Paulo’” e foi publicado a abrir o número dedicado a
Agostinho da Silva, por ocasião dos 15 anos da sua morte (NOVA ÁGUIA nº 3, 1º
semestre de 2009). O ensaio não é muito extenso mas é muito mais do que uma
“Breve nota”, sobretudo porque, sem escamotear as suas origens, que passaram
também pela inicial Faculdade de Letras do Porto – verdadeiro berço de ouro de
toda a posterior Filosofia Portuguesa –, integra Agostinho da Silva na
realidade filosófica brasileira da sua época, em particular, na “Escola de São
Paulo”, conceito que, como é sabido, foi por António Braz Teixeira consagrado,
a ponto de ter sido o título de um dos seus mais recentes livros (MIL/ DG
Edições, 2016).
Esse interesse
particular pela ponte luso-brasileira é igualmente evidente noutros ensaios – a
título de exemplo: “Miguel Reale, Historiador das Ideias” (NOVA ÁGUIA nº 6, 2º
semestre de 2010); “Nos duzentos anos de Domingos Gonçalves de Magalhães” (NOVA
ÁGUIA nº 8, 2º semestre de 2011); “Na morte de Milton Vargas” (NOVA ÁGUIA nº
10, 2º semestre de 2012); “A filosofia do ‘senso comum’ de Heraldo Barbuy
(1913-1979)” (NOVA ÁGUIA nº 12, 2º semestre de 2013); “A ética neo-tomista na
filosofia luso-brasileira contemporânea” (NOVA ÁGUIA nº 17, 1º semestre de
2016); “O teatro de Ariano Suassuna” (NOVA ÁGUIA nº 18, 2º semestre de 2016).
Noutros ensaios, tem ampliado ainda mais a extensão dessas pontes
filosófico-culturais – falamos, em particular, dos ensaios “A saudade na poesia
da ‘Claridade’” (NOVA ÁGUIA nº 19, 1º semestre de 2012); “Breve nota sobre a
poesia de Rui de Noronha” (NOVA ÁGUIA nº 14, 2º semestre de 2014); “A saudade
na poesia de Rui Knopfli” (NOVA ÁGUIA nº 16, 2º semestre de 2015).
Tudo isto sem
nunca perder de vista a sua matriz – António Braz Teixeira é, como se sabe,
alguém que se insere na linhagem mais nobre da Filosofia Portuguesa –, que
ressurge, de forma mais ou menos directa, nos seguintes ensaios: “Breve nota
sobre a saudade no Livro do Desassossego”
(NOVA ÁGUIA nº 7, 1º semestre de 2011); “Álvaro Ribeiro: Filósofo Criacionista”
(NOVA ÁGUIA nº 8, 2º semestre de 2011); “O diálogo crítico de Leonardo Coimbra
com Bruno, Junqueiro e Pascoaes” (NOVA ÁGUIA nº 11, 1º semestre de 2013); “O
liberalismo de Orlando Vitorino: nos 10 anos da sua morte” (NOVA ÁGUIA nº 12,
2º semestre de 2013); “A Ética dialéctica de António José de Brito” (NOVA ÁGUIA
nº 13, 1º semestre de 2014); “’O Penitente’, uma biografia metafísica de
Camilo” (NOVA ÁGUIA nº 15, 1º semestre de 2015); “A reflexão estética de
Vergílio Ferreira” (NOVA ÁGUIA nº 19, 1º semestre de 2017); “Em torno do teatro
de Raul Brandão” e “Francisco Manuel de Melo, Moralista” (NOVA ÁGUIA nº 20, 2º
semestre de 2017). Sem esquecer ainda o seu lucidíssimo ensaio, este mais
político, “O estado da República” (NOVA ÁGUIA nº 6, 2º semestre de 2010),
resta-nos concluir, dizendo apenas: “Por tudo isto, Gratos, Professor Braz
Teixeira!”.
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