Ando cada vez mais avesso às
redes sociais, evitando entrar em qualquer espécie de debate. A facilidade e o
imediatismo com que podemos expressar uma opinião propiciam a irreflexão, o
“achismo” e as reacções por impulso, para dizer o mínimo. Em muito casos, o que
acontece é apenas um espectáculo de estupidez colectiva, em que o mais rápido e
(por isso) o mais básico ganha sempre.
Alguns dos debates que se
encontram, a toda a hora, nas redes sociais serão, quanto muito, interessantes
por reflectirem algumas tendências políticas, sociais e culturais cada vez mais
significativas. Um exemplo recente: alguém que gosta de, provocatoriamente,
desmascarar a hipocrisia de algumas pessoas escreveu, numa rede social, um
breve texto que imputava a Marine Le Pen, candidata presidencial derrotada em
França, uma recusa em se pronunciar sobre o extermínio nazi dos judeus,
alegadamente por não ter vivido na época, nem, muito menos, ter estudado ou
lido algo sobre o assunto.
As reacções não se fizeram
esperar e foram no sentido óbvio: verberar Marine Le Pen por assumir uma
posição intelectualmente desonesta. Conseguindo o efeito pretendido, o autor
reformulou o texto, dizendo que, afinal, a imputação era falsa e recordou uma
história análoga (sendo que, esta sim, era verdadeira) protagonizada pela
deputada do Partido Comunista Português, Rita Rato, que, recorrentemente, é
apontada como um dos exemplos maiores da renovação geracional do partido em
questão.
Conforme se pode ler na edição
de 18 de Outubro de 2009 do Jornal
“Correio da Manhã”, em que se publica uma entrevista à referida deputada,
perguntou-se-lhe, a certa altura, o seguinte, a respeito da história da União
Soviética e de outros regimes comunistas: “Como encara os campos de trabalhos forçados,
denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?”. Sendo que a
resposta (publicada) foi esta: “Não sou capaz de lhe responder porque, em
concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso”. De forma não surpreendente, a
maior parte daqueles que se tinha (justamente) pronunciado sobre a imputação
anterior ficou depois calada. Moral da história? A História não tem moral
alguma…
E, a este respeito, uma outra
comparação: Jean-Marie Le Pen é ainda hoje fustigado e chegou a ser processado
por ter defendido que o extermínio nazi dos judeus tinha sido um mero “detalhe
da II Guerra Mundial”. Mas, também aqui “curiosamente”, nada acontece de
similar aos animalistas que teimam em defender que esse extermínio foi uma mera
banalidade (ou seja, nem sequer um detalhe), quando comparado com o extermínio
de animais para a alimentação humana (ler, por exemplo, António Guerreiro,
“Animais e humanos”, PÚBLICO, 5 de Maio de 2017, onde, a certa altura, se cita
esta “pérola” de sabedoria: “Para
os animais, todos os humanos são nazis [...], há um eterno Treblinka”). Moral da história? A
História não tem mesmo moral alguma. Basta parecer politicamente correcta…
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