No passado dia 8 de Fevereiro
teve lugar, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, a inauguração de uma
exposição sobre Teixeira de Pascoaes, intitulada “Pascoaes: do Solar de
Gatão ao Universo” (aberta ao público até ao dia 6 de Maio). Na ocasião, decorreu
uma mesa redonda, coordenada por Sofia Carvalho, responsável pela exposição, em
que intervieram Serafina Martins, António Cândido Franco, Miguel Real e eu
próprio.
Como (quase) sempre acontece
quando se fala da obra de Teixeira de Pascoaes, referiu-se um dos seus livros
mais emblemáticos – “Arte de Ser Português” (1915) – e a suposta contradição
entre esse seu livro e o seu alegado universalismo, contradição a meu ver
infundada (por mais que muito difundida) e que procurei desconstruir, partindo,
para tal, do filósofo José Marinho, um dos maiores hermeneutas da obra de
Teixeira de Pascoaes, sobre a qual escreveu centenas de páginas, entretanto
reunidas no volume “Teixeira de Pascoaes, Poeta das Origens e da Saudade”
(2005).
Com efeito, para José Marinho,
verdadeiramente “universal é o que tende para o uno, assumindo portanto [sublinhado
nosso: portanto e não apesar disso] a responsabilidade do múltiplo em que a
realidade se nos revela”, ou seja, o “universal concreto”, o “universal
situado”, aquele que é “respeitoso do lugar que a mais restrita parte tem no
todo, do valor que a nação, a terra, a forma de vida e o ser mais humilde devem
assumir”. Não, pois, o falso universal, cego e oco, que se afirma na negação
das diferenças.
Ainda nas palavras de José
Marinho, esse universal que se afirma na negação das diferenças “é um
‘universal abstracto’, um universal separado por artifício da situação real e
concreta do homem. O verdadeiro universal é, porém, concreto (…).”. Daí, de
resto, a sua veemente denúncia do “pseudo-universalismo forjado desde a época
das luzes, que comprou suspeitosamente barato nas feiras da Europa o saber e o
juízo crítico”, denúncia, essa, que inúmeras vezes fez questão de reiterar – a
título de exemplo: “Só se admira o universal. Mas não podemos instalar-nos nele
como num molde já feito.”; “O autêntico universalismo não se imita, não se
adapta e não se plagia”.
Daí, enfim, a sua expressa
defesa de uma filosofia situadamente portuguesa, não fosse esta “dirigida
contra o universalismo abstracto e convencional de escolásticas e
enciclopedistas em que têm vivido”. Ainda nas suas palavras: “…minha
interpretação arranca de um sentido da filosofia nacional para uma
singularidade de pensar mais autêntica e para uma universalidade mais
verdadeira, filosofia [que] se não demonstra por meio de juízos e afirmações,
mas por um pensamento que tenha em si próprio o cunho da autêntica
universalidade (…).”. Em suma: para Pascoaes, a “Arte de Ser Português” era
(melhor: é) a nossa forma de sermos verdadeiramente universais. Melhor ainda: a
Arte de Ser Lusófono…
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