Foi com muito agrado que,
ainda em 2015, recebemos a notícia de que o Município de Bragança irá criar um
Museu da Língua Portuguesa – e com muita honra que aceitámos o convite, da
parte do Professor Adriano Moreira, para integrar o seu Conselho Geral.
Desde a criação do Museu da
Língua Portuguesa em São Paulo que mil e uma vezes se falou de criar um Museu
análogo em Portugal. Como quase sempre acontece entre nós, a distância entre o
falar e o fazer é infinita. Felizmente, tal não se verificou neste caso, por
iniciativa do Município de Bragança, que, por esse passo, merece as maiores
congratulações de todos os cidadãos lusófonos – não apenas dos portugueses.
Da nossa parte, esperamos que
esse Museu celebre a Lusofonia muito para além do estrito plano linguístico.
Sendo para nós, nesse estrito plano, uma realidade ampla e multímoda – em que
cabem, por exemplo, os muitos crioulos que integram vocábulos de língua
portuguesa –, a Lusofonia está muito para além disso.
Mais do que o uso, mais ou
menos reconhecível, da língua portuguesa, um Museu da Lusofonia deverá celebrar
uma forma singular de ser e de estar no mundo. Nalguns casos, de comunidades
que, não falando de todo a língua portuguesa, denotam essa forma singular de
ser e de estar no mundo que historicamente se concretizou nos mais diversos
lugares. Em Macau, por exemplo: nunca houve muitos falantes de língua
portuguesa, mas há uma forma singular de ser e de estar no mundo que permanece.
Mais do que uma vivência,
trata-se aqui de uma convivência, mais precisamente, de uma forma de nos
relacionarmos com pessoas de outras línguas, de outras culturas, de outras
religiões. A Lusofonia, historicamente, denota essa especial capacidade de nos
relacionarmos com pessoas de outras línguas, de outras culturas, de outras
religiões, essa especial abertura ao(s) outro(s). Sim, historicamente, essa
regra teve mil e uma excepções. Mas, por comparação com outras experiências
históricas, não há como não reconhecê-lo e celebrá-lo.
Não que isso seja suficiente.
Um Museu da Lusofonia nunca deverá ser apenas um Museu de celebração do nosso
passado histórico comum, sem complexos ou recalcamentos. Deverá ser muito mais
do que isso. Deverá ser um Museu de antecipação do futuro. E não apenas para o
interior da Comunidade Lusófona. Ao celebrar essa especial capacidade de nos
relacionarmos com pessoas de outras línguas, de outras culturas, de outras
religiões, essa especial abertura ao(s) outro(s), esse Museu deverá dar exemplo
do que pode ser um paradigma de convivência pacífica. Num mundo em que a
convivência sectária parece ser ainda a regra em tantos lugares, eis um exemplo
decerto inspirador para o nosso tempo.
Agenda
MIL: esta semana, mais uma sessão de apresentação da NOVA ÁGUIA 18 (18.12.16 –
15h00: Casa do Fauno – Sintra)
1 comentário:
SAIBA-SE QUE O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA (era o único no mundo, no gênero), EM SÃO PAULO, FOI TOTALMENTE ELIMINADO (dizimado) EM SEU ACERVO, POR UM INCÊNDIO, EM 21/DEZEMBRO/2015, CAUSADO POR DEFICIÊNCIAS NA PARTE ELÉTRICA. HÁ DIAS, FOI ANUNCIADA SUA RESTAURAÇÃO, TENDO COMO PATROCINADORA MASTER, A EMPRESA PORTUGUESA EDP.
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