É fatal como o destino: sempre
que se aproxima a data de uma Cimeira da CPLP: Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, aparece sempre alguém a tentar denegri-la. Nas páginas do jornal
Público, foi Diogo Queiroz de Andrade (D.Q.A.) a fazê-lo desta vez e logo em
Editorial (30.10.2016).
O título do texto é por si só
eloquente, no seu indisfarçado tom jocoso: “A patuscada da CPLP”. Mas
centremo-nos aqui nos argumentos – desde logo no primeiro: “António Costa leva
ao Brasil uma ideia que já há uns anos faz parte do imaginário do PS: ‘liberdade
de residência’ para os cidadãos da CPLP, que é um maneirismo envergonhado para
uma solução que na prática implica a liberdade de circulação entre cidadãos de
todos os países da comunidade.”.
Generoso, D.Q.A. ainda concede
que “a ideia é boa, e justa”: concordamos plenamente, ou não a defendêssemos há
muito. Mas, acrescenta, “é também descabida: nunca passará no crivo dos
parceiros de Schengen”. Ou seja, para D.Q.A. não deve haver política externa
portuguesa para além dos ditames da União Europeia. Uma visão patusca, sem
dúvida, para um país com mais de oito séculos de existência.
Depois da inevitável
referência à Guiné-Equatorial, D.Q.A. procura sustentar a tese da
“descaracterização da CPLP”, com o ingresso de novos países observadores
associados – como se os estatutos de membros integrados e membros observadores
fossem, sequer vagamente, análogos. Tudo isto para concluir que na CPLP “se
calhar o que está a mais é mesmo a Língua Portuguesa”. Aqui, tem que se
conceder que D.Q.A. é uma vez mais generoso, muito generoso: pois que parte do
princípio que nos países de língua oficial portuguesa se fala mesmo, generalizadamente,
a nossa língua…
Ainda bem que D.Q.A. não
conhece, em termos percentuais, o real número de falantes de língua portuguesa
em cada um dos países da CPLP – caso conhecesse, ainda lhe poderia passar pela
cabeça a ideia de defender que a CPLP se deveria restringir a Portugal e ao
Brasil (ou só a Portugal, seguindo o “argumento” de que no Brasil se fala outra
língua que não a nossa). Na próxima cimeira da União Europeia, talvez seja de
perguntar quais são realmente os países da CPLP que “passam no crivo” (o sr. Schäuble, decerto, terá opinião sobre o
assunto).
E ainda bem que D.Q.A. não se pronuncia sobre o
anunciado ingresso de Santiago de Compostela na UCCLA: União de Cidades
Capitais de Língua Portuguesa, de que já faz parte (imagine-se!) Macau.
Decerto, falaria igualmente de “descaracterização”. E longe vá a ideia de se alargar,
nos próximos anos, a “patuscada” a outras comunidades, como a residente no
Bairro Português de Malaca – uma pequena comunidade de pescadores de uma cidade
da Malásia que insiste em falar “Papiá Kristang”, um
dialecto onde abundam palavras do português antigo. Caso isso aconteça (longe vá o agoiro), teremos
decerto um novo Editorial do jornal Público, a zelar pela pureza (e pequenez)
da Comunidade Lusófona.
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