Tal como aqueles casais que,
na iminência do divórcio, decidem ter um filho, Jean-Claude Juncker, o novo
Presidente da Comissão Europeia, considera que, face à tão iminente quanto evidente
desagregação europeia, não há nada de mais oportuno do que criar um Exército
Europeu (?!). É a vetusta política da “fuga em frente”, em todo o seu
esplendor.
Para mais, a motivação exógena
consegue ser tão absurda quanto a endógena: supostamente, esse Exército Europeu
seria a melhor forma de conter a “ameaça russa” na Ucrânia. Também aqui, na
verdade, nos estão a atirar areia para os olhos.
Com efeito, quem promoveu este
conflito com a Rússia foi a própria União Europeia, ainda que com o apoio dos EUA,
ao fazer um rol de promessas à Ucrânia que não poderia cumprir. Ao ter
incentivado uma atitude anti-russa junto das autoridades ucranianas, tudo o que
a União Europeia fez foi promover a própria desintegração interna da Ucrânia,
por mais que se venha a manter alguma unidade formal, a bem do respeito das
aparências diplomáticas.
Façamos uma comparação que só
peca por defeito. Imaginemos que a União Europeia, ainda que de novo com o
apoio dos EUA, incentivava Portugal a ter uma atitude anti-espanhola. Não sendo
a desproporção de forças tão grande como a existente entre a Ucrânia e a
Rússia, é fácil de perceber que, ainda assim, essa atitude seria suicidária.
Obviamente, Portugal tem que procurar manter sempre uma relação cordial com
Espanha.
Nalguns casos, de facto, como
neste, a geografia é determinante. Já para não falar da extensa comunidade
russófona que vive na Ucrânia – em particular, na sua zona leste –, nem sequer
da história política que a Ucrânia e a Rússia partilham há séculos. Imaginar
que se poderia agora fazer tábua rasa de tudo isso denota bem o estado de
alucinação dos nossos governantes, a começar pela Comissão Europeia. A falta de
realismo é sempre meio caminho andado para o desastre. O que nos vale é que a
própria realidade se encarregará de fazer abortar essa proposta de um Exército
Europeu.
Decerto, nunca iremos pois ver
um português a combater na Ucrânia em nome de Portugal. E não se trata aqui de
considerar que os portugueses devem defender apenas o seu território. Longe
disso. Julgamos, por exemplo, como já aconteceu, que é possível e até desejável
ver portugueses a defender a integridade territorial e a paz interna de países
irmãos lusófonos. Nesses casos, o risco de vida é plenamente justificável.
Nesta alucinada guerra com a Rússia é que não. De todo.
Jornal Público,
17 de Março | Jornal O Diabo, 24 de Março (2015)
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