1. Julgava eu que em Portugal
ninguém mais do que António Costa tinha “boa imprensa”, mas isso está a mudar.
A nova paixão dos nossos “media” é mesmo Alexis Tsipras, o recém-empossado
Primeiro-Ministro grego.
A paixão é tão grande que, na
sua cegueira, tudo desvaloriza: a aliança pós-eleitoral com um partido diabolizado
antes das eleições, um Governo só com Ministros do sexo masculino, etc. Até a
orgânica do Governo (com “super-ministérios”) não abala minimamente essa tão avassaladora
paixão, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Portugal. Pedro Passos
Coelho deve andar perplexo – e, por uma vez, com razão.
Mas o pior – convenhamos – não
é isso. O pior foi mesmo a estratégia suicida do novo Governo grego de “não
negociar mais com a Troika”. Por cá, no seu tempo, Francisco Louçã fez o mesmo
à frente do Bloco de Esquerda – mas Louçã nunca foi nem nunca será
Primeiro-Ministro. A sua irresponsabilidade foi pois completamente inócua.
Apenas precipitou o já então expectável declínio do próprio Bloco de Esquerda.
Tsipras, ao contrário, é
Primeiro-Ministro de um país. Assumir como estratégia o adolescente grito de “A
Troika que se lixe!” pode continuar a incendiar o coração igualmente
adolescente dos nossos “media”, mas, decerto, afundará ainda muito mais o povo
grego. É certo que a dívida grega (como a portuguesa) é impagável, mas isso,
por si só, é razão para (re)negociar com a Troika, não para fazer de conta que
não existe. Com esta estratégia, a Grécia arrisca-se mesmo a sair da zona euro.
Resta saber se, na verdade, não é isso o que Tsipras pretende, procurando
apenas, com toda esta encenação, encontrar o seu “bode expiatório”.
2. Entretanto, longe do olhar
dos nossos adolescentes “media”, há um novo partido político prestes a entregar
as assinaturas necessárias no Tribunal Constitucional: “Nós, Cidadãos!”. Um
partido assumidamente reformista, que, tendo propostas inovadoras, procura o
compromisso e recusa as sempre ilusórias e contraproducentes rupturas, bem como
o sectarismo ideológico esquerda-direita, que tanto tem viciado o nosso debate
político….
Ao ler estas linhas, consigo
imaginar a reacção dos nossos adolescentes “media”: “Que tédio!, que enjoo!! O
nosso Tsipras é bem mais sexy, bem mais excitante!!!” Para os corações menos
adolescentes, para as mentes mais lúcidas, deixo aqui o endereço do sítio onde
a Síntese do Programa Político do “Nós, Cidadãos!”, que acabei, na última fase,
por coordenar, se encontra em discussão pública (que se estenderá até ao
primeiro Congresso, a realizar-se, previsivelmente, no segundo trimestre deste
ano): bloguedetodosnos.blogspot.pt. Para toda a restante informação: noscidadaos.pt
1 comentário:
" Por cá, no seu tempo, Francisco Louçã fez o mesmo à frente do Bloco de Esquerda – mas Louçã nunca foi nem nunca será Primeiro-Ministro." - Não defendo o BE, não é isso. Mas a afirmação me leva a uma linha de raciocínio, "nunca foi PM". Será que a sociedade portuguesa não deve cessar de votar nos partidos tradicionais, como PSD, CDS, PS... e experimentar votar num partido que nunca governou o país? Colocar gente nova na Assembleia da República e no Governo?
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