Historiadores, investigadores e professores portugueses e indonésios
alertaram hoje em Jacarta, na Indonésia, para a necessidade de preservar
a herança portuguesa no país e de aprofundar o estudo sobre a história
comum entre as duas nações.
"O mais importante é que hoje as pessoas na Indonésia são como são
porque nós estivemos aqui pacificamente", destacou o embaixador
português em Jacarta, Joaquim Moreira de Lemos, na abertura do seminário
"Portugal-Indonésia: partilhando opiniões sobre a nossa história comum,
fixando objetivos de cooperação".
Perante uma plateia de mais de cem pessoas, sobretudo estudantes, na
Universidade da Indonésia, o diplomata salientou que a herança
portuguesa faz parte da identidade do país, sobretudo na parte oriental.
O embaixador repetiu apelos aos estudantes para que investiguem a
passagem lusa pela Indonésia, fazendo uso das fontes portuguesas já
existentes, e frisou que Portugal nunca colonizou o país asiático, ao
contrário do que está escrito em vários livros.
"Os holandeses nunca gostaram de nós aqui, obviamente", vincou
Joaquim Moreira de Lemos, alertando que as fontes histórica da Holanda
"podem ser parciais", dado que os holandeses antes de colonizarem a
Indonésia tiveram de expulsar os portugueses.
Lilie Suratminto, especialista em estudos holandeses, alertou que o
crioulo dos Tugu, uma comunidade com raízes portuguesas de Jacarta,
deixou de ser falado, permanecendo apenas em algumas canções.
O linguista Arif Budiman deu conta de inúmeras palavras de origem
portuguesa que estão incluídas em línguas faladas em regiões como a
Papua Ocidental, Manado e Ternate, para além das 131 que fazem parte da
língua indonésia.
O também professor na Universidade da Indonésia defendeu a criação um
dicionário Português-Indonésio, um dicionário etimológico e estudos
sobre os estrangeirismos de origem lusa.
O investigador da história da expansão portuguesa Joaquim Magalhães
de Castro considerou que "o mais importante legado é a população" e
lembrou fontes holandesas que mostram a dificuldade sentida pelos
colonizadores da Holanda em apagar as marcas portuguesas.
O também jornalista vincou que "há várias comunidades de descendentes
portugueses", sendo a passagem portuguesa visível também em sobrenomes,
vestuário, artes e até na tradição de comer bolos, panados ou pão com
manteiga.
Danny Susanto, coordenador do departamento de Francês, no qual o
ensino do Português está inserido, respondeu à Lusa que a Universidade
da Indonésia tem a "intenção" de criar um departamento de Português,
embora ainda necessite de recursos humanos qualificados locais para tal.
Questionados sobre ideias para estudar a passagem lusa pela Indonésia
e para a sua preservação, Arif Budiman e Lilie Suratminto fizeram
saber que estão a investigar o crioulo Tugu com alguns alunos.
Por seu lado, Joaquim Magalhães de Castro considerou que deve haver
uma maior aposta em documentários, filmes e até histórias de amor que
retratem esta herança "para chegar diretamente às pessoas", rematando
que os portugueses também não estão conscientes da história entre os
dois países.
O seminário, organizado pelo Instituto Camões em parceria com a
embaixada portuguesa, termina amanhã e encerra as comemorações dos 500
anos da chegada dos portugueses à Indonésia, iniciadas em 2012.
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