Cerca de um ano depois de termos
promovido um Encontro Público sobre a “A Importância da Lusofonia” (24 de
Fevereiro de 2012), promovemos, no mesmo local, o I Congresso da Cidadania
Lusófona.
Desde logo, há a destacar o salto
qualitativo – em 2012, não conseguimos a representação de todos os países e
regiões do espaço da lusofonia. Desta vez, isso aconteceu. Todos os oito países
da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, bem como quatro regiões do
espaço lusófono (nomeadamente, a Galiza, Goa, Malaca e Macau), estiverem
presentes.
Isso é tanto mais de enaltecer
porquanto, tendo sido uma iniciativa da Sociedade Civil, não tivemos meios
financeiros para custear viagens e alojamentos – ou seja, todos os presentes,
mesmo aqueles que vieram de bem longe, assumiram todas as despesas relativas à
sua presença neste Congresso.
Todos perceberam, pois, a
importância do I Congresso da Cidadania Lusófona – e daí tudo terem feito para
estarem presentes. Tratou-se do primeiro grande passo de uma caminhada que
agora se iniciará, à luz dos dois propósitos que definimos para este Congresso:
promover o conceito de “Cidadania Lusófona” e a criação de uma Plataforma de
Associações Lusófonas, congregando Associações da Sociedade Civil de todo o
Espaço da Lusofonia.
Como nós próprios salientámos na
Sessão de Abertura, na presença do Professor Luís Aires Barros, Presidente da
Sociedade de Geografia de Lisboa, e da Doutora Maria Perpétua Rocha,
Coordenadora da PASC: Plataforma Activa da Sociedade Civil, trata-se de
estender o bom exemplo da PASC a todo o espaço da Lusofonia, assim promovendo,
cada vez mais, a afirmação da Sociedade Civil. Todos, aos mais diversos níveis,
teremos a ganhar com isso.
Da parte tarde do primeiro dia – após
as duas magníficas conferências iniciais, dos Professores Adriano Moreira e
Gilvan Müller (Director do Instituto Internacional de Língua Portuguesa) e da
Entrega do Prémio MIL Personalidade Lusófona ao Engenheiro Domingos Simões
Pereira (Ex-Secretário Executivo da CPLP) –, deram-se os primeiros passos nesse
sentido, delimitando algumas plataformas em que essa convergência lusófona se
poderá cimentar: Cooperação Económica e Social; Direitos Humanos e Saúde; Cultura,
Educação e Língua; Comunicação Social, Direitos de Autor e Património.
Como foi justamente salientado no
encerramento dos trabalhos do primeiro dia do Congresso, pelo General Garcia
Leandro e pelo Doutor Gentil Martins, muito há ainda há fazer nestas diversas
plataformas de cooperação. Desde logo, há, cada vez mais, de trabalhar em rede,
de modo a que o muito meritório trabalho já realizado por algumas entidades tenha
maior projecção e, sobretudo, eficácia. No século XXI, é esse o conceito chave:
trabalhar em rede, tirando, cada vez mais, proveito das novas tecnologias.
No segundo dia, após a conferência
do Secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, sobre “O Mar enquanto
Desígnio Estratégico”, e de uma mesa redonda muito concorrida – com intervenções
de Carlos Vargas, Pinharanda Gomes, Manuel Ferreira Patrício e Lauro Moreira –,
procurou-se fazer o diagnóstico sobre a situação da Lusofonia e da Sociedade
Civil em cada um dos países e regiões do espaço lusófono. Apesar de algumas
faltas, houve representação de todos esses países e regiões, por muito que,
nalgumas intervenções, se tivesse contornado esse diagnóstico. O que até se
compreende. Sabe-se que, nalguns desses países e regiões, o estado da Sociedade
Civil e mesmo da Lusofonia é ainda muito precário.
Já o sabíamos, à partida. Mas
isso só nos dá mais força para continuarmos este caminho da convergência lusófona.
Como nós próprios dissemos no encerramento do Congresso, na presença da Maria
Perpétua Rocha e da Luísa Janeirinho, que coordenou o magnífico Espectáculo com
que se finalizou o primeiro dia do Congresso, e em que, igualmente, todos os
povos lusófono estiveram devidamente representados (e onde se estreou o Novo
Hino da Lusofonia), estamos já a pensar no II Congresso da Cidadania Lusófona. Algumas
dúvidas nos assaltam, porém, desde já. Onde o realizar? Desejavelmente, e isso
acontecerá, mais cedo ou mais tarde, num outro país lusófono. A ser em
Portugal, dificilmente encontraremos um melhor local do que a Sociedade de
Geografia.
A dúvida maior é, contudo, a
seguinte: como fazer melhor? Se, relativamente ao encontro de 2012, houve um
evidente salto qualitativo, desta vez a fasquia ficou muito alta para que um
novo salto qualitativo da mesma monta possa ser facilmente dado. Não que não
tenham existido aspectos a melhorar: desde logo, uma maior selectividade nas
participações e uma melhor preparação das intervenções. Depois, decerto, uma
maior presença na Comunicação Social. Ainda que, aí, assumamos o nosso cada vez
maior cepticismo – se a Agência Lusa e a RDP Internacional estiveram presentes,
muitos outros órgãos ignoraram este Congresso e houve pelo menos um que só se
interessou por ele pela anunciada presença do Ministro Paulo Portas (que não
pode estar presente dada a discussão da Moção de Censura ao Governo que
decorreu nesse dia na Assembleia da República) – quiçá, à espera de mais uma “grandolada”.
Mas não é a falar da mediocridade
e miopia da nossa classe jornalística – só equiparável à mediocridade e miopia
da nossa classe política –, que queremos terminar este Balanço do I Congresso
da Cidadania Lusófona. Para terminar, salientamos o que neste Congresso tem
perdurando mais na nossa memória: o ambiente de genuína fraternidade lusófona
que se viveu nos dias 2 e 3 de Abril. O que, parecendo menos importante, é, a
nosso ver, o mais decisivo: muito antes de ser um conceito, com eventuais
concretizações no plano jurídico, a Cidadania Lusófona é um sentimento, uma
afectividade. Se não for, de resto, a montante, uma afectividade, que abarque e
abrace todos os lusófonos por esse mundo fora, jamais poderá ser, a jusante, um
conceito. Desde logo por isso, o nosso Balanço não poderia ser, pois, mais
positivo.
Renato Epifânio
Presidente do MIL: Movimento
Internacional Lusófono (entidade que, no âmbito da PASC: Plataforma Activa da
Sociedade Civil, coordenou o Grupo de Trabalho responsável pela Organização do
I Congresso da Cidadania Lusófona).
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