1. Escrevendo a reflexão, que se arrasta preteritamente, no dia de hoje –
21 de Outubro de 2012 – como coordenada de referência para o que se vai seguir,
formulo e coloco a pergunta:
— O que nos reserva o Futuro?
Adivinhar o futuro é tarefa de difícil desempenho e com contornos nem
sempre claros tendo em mente os oráculos, ordálios e afins, ou até os
pragmáticos “no fim do jogo”. Independentemente da necessidade de adivinhação,
individual ou colectiva, nobre ou especulativa, “o futuro a Deus pertence”,
como diz o Povo.
No entanto, há uma necessidade intrínseca ao Ser Humano de conhecer
minimamente as possibilidades... Surge o dilema Segurança e/ou falta de
interesse!
O que vai ser de
nós se o País continuar neste caminho? Haverá reforma? Será que as medidas
tomadas são suficientes para “resolver o défice”? Temos toda a informação ou só
aquela que é possível (ou nos querem dar)? Alguém (ou ninguém) tem todos os
dados do problema?
— A sensação é a de uma Barca sem Timoneiro!
A questão que se segue é a da não pertença à conjuntura. Longe está o
“Projecto Comum de um Povo”, a sensação de fazer parte de um interesse comum e
colectivo. Cada indivíduo vive no seu mundo e tenta sobreviver. Não é o Estado
- que construiu a Nação, que serve de aglutinador, nem o emprego, nem ninguém,
apenas o nada, o vazio. A simples subsistência, sobrevivência, um dia de cada
vez – com o devido respeito - tipo Narcóticos Anónimos (NA).
Haverá uma minoria que se apoia na Fé, “porque quem tem Fé não está
sozinho”, mas a dúvida que nos ocorre surge da canção velhinha de Caetano
Veloso: “Deus dará, Deus dará, e se Deus não dá”?
O clubismo, outro “ópio do povo”, serve de distracção onde se apaziguam
os humores. As pertenças alternativas são a solução para outros, com o preço
que a descoberta acarreta no campo da auto-estima e da má-língua popular. Cidadãos
e Sociedade Espectáculo de costas voltadas, sem afinidade, ambos a léguas dos
governantes e da classe política em que ninguém confia e que padecem
transversalmente das associações e interdependências com outros grupos - pouco
recomendáveis e caídos em desgraça (ou não). O Contrato Social não existe. Há
um défice democrático. Ninguém toma parte ou participa nas decisões –
democracia mascarada.
A imagem dantesca é a de uma Barca sem Timoneiro, ora virando à “direita”
ora à “esquerda”, mas mantendo a falta de rumo. No convés, grupos que se
protegem e que vivem em adoração cogumelizada, que pouco interesse tem fora do
contexto, para além da divisão de bens e da weberiana “distribuição de cargos”
a que dá (pode dar) direito. A maioria vive sem nada, “à espera…” de que as
coisas se alterem face à manipulação de que é objecto pela Comunicação Social, fazedora
de opiniões e chomskyanamente propagandista, pertença da classe (ou poder) dominante
transmutada nos mercados, sociedade anónima difícil de responsabilizar.
Nos pontos de ruptura tudo se desmorona de forma torpe e inumana,
paradoxalmente abafados e escondidos pelo grande irmão orweliano, que se
esconde pleonasticamente no camarote mais escondido da Barca.
O que sobrevém? Boa Esperança ou Cabo das Tormentas? Utopia ou Distopia? Eventualmente
a barca só teve timoneiro quando assumiu o maniqueísmo da guerra-fria, com as
tensões em crescendo no seu interior, mas com o timoneiro a salvo fruto da
oposição entre contrários!
— Será necessária outra guerra-fria (ou quente)?
– hereticamente com a capacidade regeneradora que as grandes desgraças e perdas
têm por uso produzir.
2. O que é facto (a
tal força normativa) é que as Nações e os Estados só se acalmaram por dentro,
quando se exaltaram por fora. A coesão e o projecto comum saíram sempre da
agressividade externa, espaço vital, zonas de interesse e de influência. No
caso português, Conquista e Descobrimentos – Sonho e Aventura!
No escrever de Cecília Meireles “os portugueses são os que saíram, não os
que ficaram”, fazendo jus à “nação peregrina em terra alheia”. Vocação
andarilha, espírito emigrante na pessoana afirmação de que “é preciso ir para
ter Saudades”. “Ser Português é pouco para portugueses” no dizer de Eduardo
Lourenço.
Portugal, Porto Seguro de viajantes, casa materna de regresso do filho
pródigo, mas pântano de águas paradas e insalubres para os que ficam na “vida
habitual”. É-se português fazendo parte “da maneira portuguesa de estar no
mundo”. Saudade que nos agiganta, une e aproxima.
O português é-o, assumidamente, no exterior. Relação profunda que aumenta
com a distância quando o imaginário saudoso só se lembra do bom e esquece o mau
do “viver habitualmente”. Torna-se necessário “o Pragmatismo da Aventura e o
Realismo do Sonho”.
Sonho que começou em 1128 (com a revolta contra a própria mãe) e acabou
em 1974 (com o abandono de muitos… irmãos). O regresso das Caravelas anulou-nos
completamente. Portugal “metropolitano” é pequeno demais para nós. É na
diáspora que nos assumimos como povo. É na diáspora que nos tornamos parte do
mundo que globalizamos pelo espírito nómada que nos caracteriza. Há um
português em cada canto do mundo e onde está um português é Portugal!
— Há que assumir esta capacidade e
idiossincrasia. A vocação marítima (atlântica, mas também pacífica) e africana
mantém-se. Há que avançar de novo para lá da Taprobana. Há que definir um Conceito Estratégico que englobe e assuma assumidamente,
à guisa de Agostinho da Silva, a Lusofonia e a CPLP.
3. Anarquia e
quejandos – a “justiça popular e respectivo correctivo”, o A, dentro de um
círculo, de “Olha a MerdA” e “a salcicha, a única coisa que tem dois fins” - porquê
obedecer? Porquê aceitar? Com dinheiro para viver ninguém quer trabalhar! Não
há um projecto, não há uma ideia porque lutar!
Escravatura, trabalho forçado, estatuto do indigenato, guerras do quata quata de Quarta Geração… Sempre
violência, sempre pela força. Nada foi construido pacificamente! Conquista - hard power! Nada pelo consenso, apenas
pela força! Conquista, luta pelo poder - as armas têm variado, mas os
objectivos são os mesmos, os de sempre! A obediência – quando há (não há)
carácter – só existe pelo medo ou pelo interesse. Não é espontânea, nem inata,
é aprendida, ensinada e pressupõe obrigação.
— Porquê ser leal e obediente a quem nos
prejudica? Qual a justificação? Qual a explicação? “Si lavoro mangio mal, si
non lavoro non mangio, non lavoro!”
Marx e O Capital, Lenine e O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo (ou Capitalismo fase final do Imperialismo e de outras coisas mais?), Keynes
e A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda e Sen e Desenvolvimento como
Liberdade - liberdade versus
obediência, capacidade de escolher versus
obrigação imposta. Trabalhar pela remuneração, sem remuneração qual é a
justificação? Que tipo de remuneração? O que se pode comprar com ela? O
pagamento (ser e ter – valor e preço) pela obediência é diminuto, não se
justifica!
— Quanto tempo mais a situação se aguenta? (Até
um tijolo voa, não tem é capacidade de sustentação). A partir do momento que
não existem ideias, tudo é vil metal, como cantava, em Cabaret, Liza Minneli - uma
questão de dinheiro. E, se não há dinheiro, não há palhaços! Em que ficamos?
Lembro-me do Mercador, da Morte e do encontro em Samarcanda…
— Olha a Merd
!
Bem para lá do
outro lado da ponte, em 21 de Outubro de 2012
Carlos Spleen,
o outro Carreira
Sem comentários:
Enviar um comentário