Quando partiste, comungávamos todos a esperança, de que irias recuperar depressa e voltar, para continuares visionário como sempre, os teus sonhos de construção nesta tua Pátria Amada, de uma sociedade de paz, progresso, justiça social e bem-estar para todos os seus filhos.
Sonhos que te propuseste realizar, como preito de homenagem ao Combatente da Liberdade da Pátria, que consentiu até o sacrifício supremo da sua própria vida para que hoje a Guiné-Bissau fosse livre e independente e cuja memória quiseste sempre honrar.
Sonhaste sempre construir a Pátria Amada, com que Cabral sonhou. Uma pátria, em que como dizias, os guineenses de todas as raças, culturas, credos religiosos, opções ideológicas, pudessem conviver e reconhecer-se no somatório de valores e interesses que os unem e fazer da diversidade do xadrez étnico-cultural, que caracteriza o nosso país, uma incomensurável riqueza e força de união;
Não quis o destino que assim fosse, mas hoje, estamos aqui, todos juntos e unidos, como sempre quiseste, num amplexo que se estende do Cabo Roxo à Ponta de Cajete e de Unhocomo a Buruntuma, para nos curvarmos respeitosamente perante a tua memória.
Tu que nas fileiras do PAIGC, cedo conheceste as agruras da vida e tiveste a sorte de partilhar no segredo das matas os momentos exaltantes da senda libertadora do nosso povo ;
Tu que viste o teu pai, que sempre trazias presente, morrer às mãos do colonialismo e sepultado em parte incerta, para que esta terra fosse um dia livre e independente ;
Tu, o professor, que aplicou o lema de Cabral segundo o qual, “os que sabem devem ensinar aos que não sabem”, para se construir um futuro melhor ;
Tu que partiste das longínquas paragens de Cã e deixaste para trás o verde das suas matas, o cheiro bolanhas e o olhar a perder de vista das lalas de Cubisseco, para cumprir os ideais da independência e o legado histórico de Amílcar Cabral;
Tu, o líder sindical, que mesmo em tempos de partido único, conseguiste com mestria imprimir uma nova dinâmica à luta dos trabalhadores guineenses ;
Tu, o homem de convicções fortes, mas sempre aberto ao diálogo e à confrontação dinâmica e enriquecedora de ideias e que te definias como “um intelectual camponês”, para deixar bem vincado o teu apego às tuas origens e ao Chão de Quinara que te viu nascer ;
Tu, que cumpriste todas etapas até te guindares à mais alta magistratura da Nação, conseguindo sempre manter a humildade, que caracteriza os grandes Homens e nunca cedeste à ambição, à hipocrisia e às tentações do poder ;
Tu, o humanista, que procuraste sempre na base da tolerância e do respeito das diferenças, reconciliar e unir e nunca dividir para reinar ;
Tu, Presidente, Camarada, companheiro de luta, pai e amigo
Merecias mais do que esta singela homenagem deste teu povo e dos teus companheiros de trincheira, familiares e amigos, que hoje aqui estão presentes.
Estamos no entanto certos que, por mais singela, esta homenagem, é um tributo sentido do Povo guineense à memória de um grande Homem, de um Homem intrinsecamente bom.
Fica aqui e agora, nesta hora do adeus, o nosso compromisso de honrar a tua memória, como alguém que sempre lutou, trabalhando para que a tua e nossa Guiné-Bissau, possa conquistar a paz e a estabilidade que tanto merece e precisa.
Partes hoje, porque há sempre um tempo para nascer e um tempo para morrer. A tua memória, essa, vai perdurar para as gerações vindouras.
Porque, como disse Bertold Brecht :
“ Alguns homens lutam um dia e são bons ;
Outros lutam um ano e são melhores ;
Os que lutam vários anos são óptimos.
Mas os que lutam a vida toda…esses são imprescindíveis”.
Que a terra deste chão que ajudaste a libertar e que tanto amaste te seja infinitamente leve!
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