UM LOBO DA ESTEPE
Parece incrível,mas, o mestre Rubem Fonseca está lançando um livro de memórias.
O grande escritor brasileiro, conhecido por ser avesso a publicidadedespertará ,sim,a curiosidade não só de seus leitores fieis como de todos os amantes da literaturae,porque não dizer,de todos os curiosos.
Rubem escreve,porém,não gosta de se expor e até aoslançamentos dos seus livros não comparece,como recentemente na FLIP.
No mundo literário isso não é novidade.Existem outros anacoretas ou quase,como Saramago,HermannHesse,Coetzee que preferem tomar um chá de sossego a enfrentar o público,essemonstro de mil olhos e sete cabeças que define ou não o sucesso de alguém.
O livro em questão chama-se José e embora escrito naterceira pessoa não esconde que opersonagem é o autor,cujo nome completoé José Rubem Fonseca.
Será que Rubem,ummestre nos contos,autor de livrosmemoráveis como “O Cobrador”,”Feliz Ano Novo”,” Agosto” e, recentemente “O Seminarista” desvendará para o mundo suapersonalidade introvertida e nosdeixará invadir esse campo tão defendido do EU do autor?
O livro inicia-se na sua infância em Juiz de Fora, embora seja o mais cariocados mineiros.
Da adolescênciaaté á maturidade, já no Rio, o livro se estende com narrativas da faculdade edo trabalho como advogado criminalista.
Uma época importante ficou escondida :a passagem do escritor peloIPES,Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais,entidade que referendou o golpede 64,dando-lhe suporte e ,dizem alguns,tornando-o possível.Não vejo porqueRubem devesse omitir este fato;afinal,ele era apenas um funcionário, sem poderde mando e execução.
Aliás , a política foi banida completamente ,afora umas breves menções de viagens à Cuba,cujo povo ele pareceu adorar.
Mas, não se deve punir o livro por isso ,pois sua abrangência e interesse superatodos os senões e nos traz momentos de beleza tocante como a morte dos irmãos e bons momentos de humor fescenino.
Entende-se que o homem Rubem Fonseca hesite emdesnudar-se frente ao leitor.O escritornão precisa falar de si mesmo; sua obra fala por si.
Concordo com Rubem que o escritor deve se preservar.A convivência com os nossossemelhantes é impossível nesta guerra de egos e espíritos mesquinhos queparecem viver num estado constante de competição.O escritor é o lobo doescritor.
E ,quanto mais medíocre,mas, competitivo e invejoso.
Quanto aos nossos leitores,um pouco de mistério não faz mal; deixa a imaginaçãodo leitor funcionar também neste campo.
Hesse, o autor do “Lobo da Estepe” ,escreve ao leitor:
“É claro que não posso nem pretendo dizer aos leitores como devem entender minhahistória.Que cada um encontre nela aquilo que lhe possa ferir a corda íntima eo que lhe seja de alguma utilidade.”
Sábias palavras!
*Miriam Sales é escritora e articulista brasileira
Sem comentários:
Enviar um comentário