Ambiciosos? Bravos? Sonhadores? Um pouco disso tudo.
E conseguimos. Fomos mais além e sobrevivemos. Fizemos erros. Acrescentámos bem ao mundo. Descarrilámos. Aprendemos um pouco mais. Não tudo o que precisamos ainda, hélas!
Aqui e agora a lição do Adamastor é a Dona Branca do capital global operando a coberto dos offshores sem qualquer controle, que se alimenta no velho esquema da pirâmide, sugando sempre mais as frágeis economias, que fareja exemplarmente seja onde for que as possa ir buscar, dando a ilusão de que vem para ajudar a reproduzir lucro em proveito dos que nelas trabalham. E vem de facto, mas a coberto de um esquema de sucção vampírica do produto da força de trabalho escassamente compensada, através de um marketing hipnotizante organizado à volta de valores de consumismo, de valores de posse de um supérfluo que supostamente dará mais bem-estar, mais felicidade, mais prestígio, etc, etc. Conhecemos bem o estilo e – se algo de útil esta “crise” tem, como todas, é que cada vez mais vamos sendo capazes de identificar o que precisamos mudar!
Esta é a raiz, este é o cancro, este é o novo Adamastor que vimos alimentando à custa da nossa própria sobrevivência, levados por uma crescente febre de acumulação individual do supérfluo.
Conhecemos bem o desfecho das pirâmides das Donas Brancas. Quando a sua insaciável ganância começa a dar sinais de esgotamento da capacidade de produzir mais-valias em seu proveito, a pirâmide começa a ruir e começa a ruir pela base, ou seja, por aqueles que mais recentemente foram angariados para a alimentar. Estes são os primeiros a falir. Ficam sem recursos. Aqueles que entretanto se apresentaram para os governar e se especializaram em vender ilusões ao serviço dos que os financiam, na condição de que assegurem a perpetuação do esquema piramidal onde voluntariamente aceitaram integrar-se para proveito próprio, tentam desesperadamente manter o esquema em funcionamento. Tornam-se experts na mentira e na manipulação e assim prosseguem até que eles mesmos são engolidos pela pirâmide, que os priva de qualquer autonomia e poder, passando as decisões para o patamar acima, incluindo-os também a eles próprios na vampirização.
De patamar em patamar, os que estão na base vão sendo excluídos e deixados entregues a si próprios, na sua miséria de supérfluo. E aqueles que se lhes seguiam no patamar logo acima e lhes vendiam as ilusões assim seguirão a mesma sorte. E assim sucessivamente até toda a pirâmide ruir.
Donas Brancas, tupperwares, franchisings… Olhemos de perto e veremos o mesmo esquema em acção.
No topo, o ilusório todo-poderoso Adamastor, só o será enquanto o olharmos como um tal.
É a nossa própria ilusão que o alimenta.
Quem melhor do que nós, portugueses, para o enfrentarmos?
Nós sempre acreditámos que para além da escuridão não era o nada, não era a desgraça e que, se ousássemos enfrentá-lo e ultrapassá-lo, com fé, visão, esforço e valentia, encontraríamos novas terras, novas gentes, nova força de vida, nova energia, nova luz.
E assim foi.
Pois agora são os mesmos desafios que enfrentamos.
E assim será.
Nas terras que antes descobrimos crescemos sobretudo pela nossa inerente natureza de aceitação das diferenças, de capacidade de troca fraterna. Criamos fortes laços de afecto, de amores, que são os que verdadeiramente perduram e alimentam não só o corpo mas também a alma… É o nosso segredo, a nossa verdadeira riqueza. O tesouro que nada nem ninguém nos pode tirar porque está dentro de cada um de nós. Almas com muitos eons de existência, trazemos na memória dos nosso genes esse bem precioso que é o amor fraterno.
A porta de saída desta trapalhada em que nos meteram e nos metemos só pode ser o reencontro com a nossa profunda identidade. É daí que vem a força vital que não se esgota nunca.
Precisamos dirigir para ela o nosso olhar, a ela nos re-ligarmos de novo. Ao fazê-lo vamos perceber que não estamos sós.
O espaço da Lusofonia a que ficámos ligados pelo afecto e pela língua dos nosso antepassados está vivo e nele podemos mesmo encontrar alguns excelentes exemplos de uma busca mais certa de fraternos valores de crescimento colectivo, de justa distribuição dos bens disponíveis, de promoção do aproveitamento cuidado dos bens que a natureza mãe põe ao nosso dispor.
Até esses – Terra, Mar – fomos proibidos de usar em nosso legitimo proveito! E mesmo o Ar (símbolo de “inteligência e conhecimento”) se vem escapando da nossa terra cada vez mais poluído pela mesma malha da exploração da mais-valias que ajuda a criar noutras paragens.
A Lusofonia – lembremos os nossos irmãos de Timor e do Brasil – vem reflectindo a nossa identidade comum no seu melhor, capazes de lutar por seus valores, pela construção de verdadeiras democracias – poder do povo no seu melhor.
Nada mais justo do que a proposta de Lula para presidente da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A pirâmide vampírica em que a economia mundial se tornou dá sinais de derrocada.
A justa indignação dá finalmente sinais de vida e sai para as ruas. A evolução humana pela expansão da consciencialização global está em curso e faz o seu caminho. Portugal é peça muito importante neste processo.
Mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a recuperar os valores certos de dignidade do ser humano, só possível na fraterna cooperação e justa distribuição dos bens essenciais, como o nosso culto do Espírito Santo tão bem nos auto revela. Quanto mais cedo o percebermos e nos juntarmos aos que já se desenham no pelotão da frente dessa construção evolutiva de sermos, mais cedo também recuperaremos a nossa maior dignidade, a nossa verdadeira identidade.
Somos todos diferentes e todos uma só humanidade.
Nós, portugueses, sabemos que é na conjugação fraterna das diversas identidades, no que de melhor cada uma tem para oferecer, que está a luz que ilumina e nos guia no caminho certo para a viagem que nos revelará plenamente na nossa verdadeira plenitude de quem somos: o Todo em processo de Criação.
É esse o sonho realidade do culto português do Espírito Santo que a todos nós habita, ou seja, da força vital do Amor Fraterno em Acção. É esse o Portugal que reconhecemos como nosso. É essa a nossa parte no colectivo.
A nossa Fratria, a Língua portuguesa, o Reino da Consciolândia, o sonho real, a nossa verdade que podemos e devemos partilhar com o mundo.
Carminda H. Proença http://reinodaconsciolandia.blogspot.com
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