"Em época menos recuada, concedeu Clara Ferreira Alves, na qualidade de diretora da Casa Fernando Pessoa, uma entrevista a um jornal diário, na qual declarava que não lhe interessava nada o "lado religioso" de Fernando Pessoa, faceta que a senhora, de resto, considerava "detestável".
Pedro Martins
Nova Águia 7
Ignorar ou - pior - desprezar o lado religioso ou para-religioso do pensamento pessoano é escolher ignorar a parcela mais importante do pensamento político e filosófico de Fernando Pessoa.
A latitude religiosa e mental do pensamento e da ação humana é essencial para a realização do indivíduo e desprezá-la (como fez Clara Ferreira Alves) é procurar tornar a Pessoa numa máquina biológica, destituída de mais propósitos além dos reprodutivos e alimentares. E o Homem é imensamente mais do que isso... o aspeto religioso do Homem é determinante nas decisões pessoais e comunitárias desde sempre e condicionou e condicionará sempre as grandes decisões. Na Expansão portuguesa, essa pulsão foi determinante (por muito que António Sérgio não acreditasse nela) e ainda que o mundo contemporâneo possa parecer a-religioso ou mesmo anti-religioso não o é de facto, sob a superfície... os valores fundamentais da sociedade seguem sendo de base judaico-cristã, assim como as motivações finais, pessoais e coletivas e o Lucro não é o "deus" último e acabado que se pensou ser, havendo sinais claros que o paradigma económico está a começar a dar sinais de mudança: empresas cooperativas, índices de felicidade, aquecimento global, preocupações ecológicas e de sustentação ambiental começam a penetrar grande parte das atividades humanas e poderão ser dominantes no mundo económico e social que se seguirá a esta grave crise atual...
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Desde 2008, "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"
Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)
A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)
Agostinho da Silva
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