De Júlia Laginha:
Casa da Aldeia dos Bacelos - Quinta do Anjo (Palmela)
A Aldeia dos Bacelos é a parte mais antiga da Aldeia de Quinta do Anjo (Freguesia do Concelho de Palmela), provavelmente com ocupação desde a pré-história, e é composta por núcleos de casas baixas, com pátios onde tradicionalmente se guarda o gado ovino e caprino e onde se situam algumas das queijarias. O seu nome provém da enorme quantidade de vinhas que circundavam as habitações e que, noutros tempos, constituíam, a par do pastoreio, a única forma de subsistência das populações locais.
"A Comporta do arroz. Mondina preparando a refeição no local do trabalho."
“Os homens e as mulheres que vieram habitar a Comporta, chegaram de fora, às golfadas, em grandes ranchos, na procura de trabalho e pão que as suas terras de origem lhes negavam. Eram “algarvios” de fala cantada, vindos da serra e das aldeias pobres da costa sudoeste; “ratinhos” e “caramelos” de entoações rumorosas vindos da dureza da montanha; mas também gente de mais perto, camponeses sem terra das periferias de Alcácer; filhos e filhas de pequenos agricultores das freguesias serranas de Santiago do Cacém, mulheres de pescadores da Costa de Santo André tornadas mondinas e ceifeiras.
Chegavam com o despontar da primavera quando os picos de trabalho exigiam mais mão de obra, ou ainda antes, de invernada, por cá permanecendo nove, dez meses, quase um ano, agarrando todo o tipo de serviços que podiam. Encontravam-se, muitas vezes no mesmo celeiro, cinquenta metros de comprido por dez de largo, que a Atlantic disponibilizava para lhes servir de quartel, comendo, dormindo, bailando, amando, indo aos domingos, em grandes grupos, banharem-se ao mar da Comporta. E se as privacidades se dissolviam, valoravam-se intensas sociabilidades.”
João Madeira (Historiador)
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