O debate que entretanto foi aberto - e que tinha mesmo de se seguir às manifestações sob pena de inconsequência - nomeadamente nas redes sociais, só pode conduzir fazer luz sobre a complexidade da crise atual e suas causas e abrir, quem sabe, linhas de futuro. ó pode, sob pena de cairmos na barbárie.
É consensual que à juventude de hoje - e convém não esquecer que a crise não é só portuguesa, é europeia, ocidental, e está a alastrar por todo o mundo, embora começando pelos elos mais fracos do sistema - faltam vias de futuro. Não encontram trabalho e muitos dos que o encontram são mediocremente remunerados. Em muitos casos, trabalha-se sem remuneração, na esperança de melhores dias...Constituir família e ter filhos - e não devemos esquecer a crise demográfica - é já hoje uma miragem para os jovens, por motivos óbvios. À crise económica e social, com estas consequências, vem juntar-se a crise de sentido, esta tremendamente perigosa, pelos efeitos psicológicos e espirituais que pode desencadear.
O debate que a todos nós interessa, aos jovens e a todas as gerações, deve ser multifacetado, mas não pode ignorar o grave problema económico que, em grande parte, está na raiz da crise atual. Ignorar este fator é ter medo da verdade e não devemos temer a verdade. Importa perguntar: quais as perspetivas, não só a curto mas também a médio e até a longo prazo, quanto à criação de empregos que não só possam absorver o desemprego presente mas gerar novos? Sabendo-se que só índices de crescimento da ordem dos 3-4% podem gerar emprego, em que setores da economia podemos esperar elevados investimentos capazes de impulsionar aquele crescimento? Será realista esperar a criação massiva de empregos quando nos nossos dias as empresas recorrem cada vez mais às tecnologias da microeletrónica, estas, pela sua natureza própria, não carecendo de muita mão-de-obra? O que esperar do Estado? A braços com a crise económica e financeira, esgotado de recursos, poderá vir dele a solução do problema económico?
E se devemos centrar-nos nos nossos problemas, a verdade é que é impossível ignorar o carácter não apenas europeu e ocidental da presente crise. Se no ocidente, ela já é mais visível nos elos mais fracos do sistema capitalista, como na Grécia, Irlanda, Itália e Espanha, como não captar e não tentar interpretar os sinais que nos vão chegando da periferia mundial do sistema: Médio oriente, Magrebe...?
São, com efeito, imensos e desafiantes os trabalhos das gerações jovens... e, por que não dizê-lo, de todos nós.
4 comentários:
1º ponto: os nossos governantes têm que se mentalizar de uma vez por todas que devem defender as nossas pequenas e médias empresas em vez de as afogar em burocracia e impostos. Empresas saudáveis geram postos de trabalho.
2º ponto: direccionar os cursos dos nossos jovens para o mercado de trabalho, investindo nas áreas industriais, agriculas, etc. E quando optar por essa via ter em atenção a qualidade desses cursos, principalmente a experiência dos professores no mercado de trabalho da área que vão leccionar.
3º ponto: reformular a lei laboral, permitindo que as empresas adaptem a quantidade de funcionários à quantidade de trabalho que têm em carteira. Quantas empresas não poderiam hoje ainda estar abertas se tivessem tido essa possibilidade e quem sabe passando esta pesada crise que estamos a viver não voltariam a reabrir os postos de trabalho extintos. No estado actual vai empresa, vão postos de trabalho e vai a economia do nosso país.
Obviamente que para essa mudança ter efeito é preciso políticos com coragem, sindicatos sérios e uma sociedade civil disposta a arriscar na mudança de novos horizontes.
Cumprimentos
Importa prosseguir o debate.
Em primeiro lugar, há um risco que deve ser evitado, que é cada um pensar que, resolvendo o seu caso, o seu problema tudo o mais já não importa. Não foi esse o sentido das manifestações do dia 12 de Março. É claro que cada um deverá sempre encontrar o seu caminho, mas sem se desligar dos problemas coletivos. Pois, como se diz na antiga sabedoria «se não respondo por mim, quem responderá por mim? mas, se só responder por mim, serei ainda eu?»
Há que refletir e encontrar respos-
tas para questões muito sérias. - porquê a «desvalorização dos diplomas» no mercado de trabalho? Que problemas levanta ao emprego - mesmo para os diplomados com cursos superiores - a Terceira Revolução Industrial, baseada na microeletrónica, nas TIC, nas Biotecnologias, na Robótica, etc? Assentam ou não esses novos setores na redução constante de trabalho humano, substituído pelo crescente papel da máquina? Estaremos ou não no limiar de um novo paradigma sócio-económico, radicalmente oposto a este e capaz de responder aos anseios das pessoas, e dos jovens? Qual o estatuto do «Trabalho» nas sociedades atuais? Deverá o trabalho ser a razão de ser fundamental das nossas vidas?
Por outro lado e para além destas e de muitas outras interrogações - e só interrogando, questionando, é que a humanidade fez o seu caminho - não podemos ignorar também duas outras mais: a crise não é de Portugal e da juventude portuguesa. A crise é sistémica e é global, embora com diferentes ritmos de evolução e de tendência. Tenha-se em conta que à nossa «Geração à Rasca», corresponde, por exemplo, na Alemanha a «Geração Estágio», também ela a braços com uma profunda crise de sentido e de perspetivas para a sua vida. E ainda: há uma crise ambiental gravíssima que, ela também, coloca contundentes interrogações a todos os níveis, incluindo ao nível económico. Basta, a este propósito, referir a existência de correntes de pensamento e de ação que defendem e propõem o «Decrescimento»...pois, dizem, «defender um crescimento infinito num mundo finito, é de loucos ou de economistas». Que implicações práticas, a muito curto prazo, terão estas e outras questões?
Um bom guia teórico-prático para começarmos o debate e nos envolvermos na ação talvez seja precisamente o pensamento de Agostinho da Silva.
António Assunção
Importa prosseguir o debate.
Em primeiro lugar, há um risco que deve ser evitado, que é cada um pensar que, resolvendo o seu caso, o seu problema tudo o mais já não importa. Não foi esse o sentido das manifestações do dia 12 de Março. É claro que cada um deverá sempre encontrar o seu caminho, mas sem se desligar dos problemas coletivos. Pois, como se diz na antiga sabedoria «se não respondo por mim, quem responderá por mim? mas, se só responder por mim, serei ainda eu?»
Há que refletir e encontrar respos-
tas para questões muito sérias. - porquê a «desvalorização dos diplomas» no mercado de trabalho? Que problemas levanta ao emprego - mesmo para os diplomados com cursos superiores - a Terceira Revolução Industrial, baseada na microeletrónica, nas TIC, nas Biotecnologias, na Robótica, etc? Assentam ou não esses novos setores na redução constante de trabalho humano, substituído pelo crescente papel da máquina? Estaremos ou não no limiar de um novo paradigma sócio-económico, radicalmente oposto a este e capaz de responder aos anseios das pessoas, e dos jovens? Qual o estatuto do «Trabalho» nas sociedades atuais? Deverá o trabalho ser a razão de ser fundamental das nossas vidas?
Por outro lado e para além destas e de muitas outras interrogações - e só interrogando, questionando, é que a humanidade fez o seu caminho - não podemos ignorar também duas outras mais: a crise não é de Portugal e da juventude portuguesa. A crise é sistémica e é global, embora com diferentes ritmos de evolução e de tendência. Tenha-se em conta que à nossa «Geração à Rasca», corresponde, por exemplo, na Alemanha a «Geração Estágio», também ela a braços com uma profunda crise de sentido e de perspetivas para a sua vida. E ainda: há uma crise ambiental gravíssima que, ela também, coloca contundentes interrogações a todos os níveis, incluindo ao nível económico. Basta, a este propósito, referir a existência de correntes de pensamento e de ação que defendem e propõem o «Decrescimento»...pois, dizem, «defender um crescimento infinito num mundo finito, é de loucos ou de economistas». Que implicações práticas, a muito curto prazo, terão estas e outras questões?
Um bom guia teórico-prático para começarmos o debate e nos envolvermos na ação talvez seja precisamente o pensamento de Agostinho da Silva.
António Assunção
Importa prosseguir o debate.
Em primeiro lugar, há um risco que deve ser evitado, que é cada um pensar que, resolvendo o seu caso, o seu problema tudo o mais já não importa. Não foi esse o sentido das manifestações do dia 12 de Março. É claro que cada um deverá sempre encontrar o seu caminho, mas sem se desligar dos problemas coletivos. Pois, como se diz na antiga sabedoria «se não respondo por mim, quem responderá por mim? mas, se só responder por mim, serei ainda eu?»
Há que refletir e encontrar respos-
tas para questões muito sérias. - porquê a «desvalorização dos diplomas» no mercado de trabalho? Que problemas levanta ao emprego - mesmo para os diplomados com cursos superiores - a Terceira Revolução Industrial, baseada na microeletrónica, nas TIC, nas Biotecnologias, na Robótica, etc? Assentam ou não esses novos setores na redução constante de trabalho humano, substituído pelo crescente papel da máquina? Estaremos ou não no limiar de um novo paradigma sócio-económico, radicalmente oposto a este e capaz de responder aos anseios das pessoas, e dos jovens? Qual o estatuto do «Trabalho» nas sociedades atuais? Deverá o trabalho ser a razão de ser fundamental das nossas vidas?
Por outro lado e para além destas e de muitas outras interrogações - e só interrogando, questionando, é que a humanidade fez o seu caminho - não podemos ignorar também duas outras mais: a crise não é de Portugal e da juventude portuguesa. A crise é sistémica e é global, embora com diferentes ritmos de evolução e de tendência. Tenha-se em conta que à nossa «Geração à Rasca», corresponde, por exemplo, na Alemanha a «Geração Estágio», também ela a braços com uma profunda crise de sentido e de perspetivas para a sua vida. E ainda: há uma crise ambiental gravíssima que, ela também, coloca contundentes interrogações a todos os níveis, incluindo ao nível económico. Basta, a este propósito, referir a existência de correntes de pensamento e de ação que defendem e propõem o «Decrescimento»...pois, dizem, «defender um crescimento infinito num mundo finito, é de loucos ou de economistas». Que implicações práticas, a muito curto prazo, terão estas e outras questões?
Um bom guia teórico-prático para começarmos o debate e nos envolvermos na ação talvez seja precisamente o pensamento de Agostinho da Silva.
António Assunção
Enviar um comentário