Não são para grandes floreados literários, os tempos, de tragédia e de miséria, de rastejante humilhação, vou pois dirigir-me a vós frugal e sinteticamente, a soar a Português, que por vezes parece que esquecemos já a língua que nossas mães nos ensinaram a falar. Não vou desbaratar tempo nem forma.
O recente episódio eleitoral, que foi na realidade um golpe de estado, como sempre publicamente aleguei, uma vez que os dois partidos coligados no exercício do poder dispunham de um simulacro para decapitar antes do embate final e entregar a vitória ao César já eleito, abriu uma fenda incolmatável na legitimidade da presunção de representatividade do Presidente reeleito. Feitas as contas, não representará sequer vinte e cinco por cento dos portugueses.
A Nação, Caros Amigos, navega à deriva, num ciclo derradeiro de naufrágio lento e extenuante, a bater os leitos mais profundos do oceano. Três décadas de humilhação, ajoelhada à caridade complacente da União Europeia, enfrenta-se agora espoliada de todo o seu património material e moral.
Não me vou pôr em frente de vós, a descrever um horizonte que todos vemos.
Acossado pelo esgotamento do espectro das manobras circenses a que tem podido ainda recorrer, enfrentando para mais a crueza da sua óbvia falta de representatividade real que o legitime, o regime vigente treme e apresenta-se mais vulnerável do que nunca. Não vai conseguir aguentar a sucessão dos embates que o esperam, na medida em que o povo irado irá reagir contra a fome e a miséria, de bens materiais e morais, recalcitro.
No próximo dia 12, duas ou três gerações de jovens enxovalhados pela sua precária e incerta condição vão manifestar-se por todo País e em Lisboa.
Ninguém pode ficar a olhar os céus e os bandos de andorinhas que começam a abeirar-se, para fingir que não vê. Assiste-lhes toda a razão. E falam em nome de todos os portugueses que com eles partilham o opróbrio.
Entendi endereçar-lhes um apelo, que vos endereço agora a vós também. Porque sei que reside aqui o melhor da inteligência da Nação, munida dos recursos críticos e construtivos de que eles foram vergonhosamente espoliados. Tendes, a meu ver, a obrigação de estar a seu lado.
A cultura e as letras são política e bens de primeira necessidade da República, Caros Amigos. Não os aferrolheis com usura. Porque a hora é de aprumo cívico.
Sois, para mais, o impulso, por vossa vocação, para que a Pátria se alevante, se liberte do jugo de uma Europa faminta de despojos e procure os alinhamentos estratégicos em que já se devia ter sediado há muito, que são os territórios da Lusofonia.
E porque se me detivera em mais argumentos não estaria senão a insultar-vos, anexo o meu apelo, rogando-vos que o subscrevais colectiva e singularmente.
‘’Pro Patria’’, Caros Amigos, ‘’Pro Patria’’.
Lisboa, 5 de Março de 2011.
Manuel de Castro Nunes
O MIL emitirá em breve um Comunicado sobre a Manifestação de 12 de Março.
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