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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

domingo, 9 de janeiro de 2011

VERGÍLIO FERREIRA: UMA ESCRITA EXISTENCIALISTA


Por, Isabel Rosete


«(...) o que se pretendia de mim não era uma conversa sobre o pensamento existencial, mas sobre a literatura que a ele se liga. Ora bem, o caso é este: não há corrente alguma literária existencialista. Porque se nós pretendermos isolara e apontar a dedo um literato existencial, temos de nos ficar por um Sartre, por uma Simone e pouco mais. (...) Quer dizer: a literatura existencial reduzir-se-ia as três ou quatro literatos»[1]
Vergílio Ferreira

Desde a publicação de O Caminho Fica Longe (1943) e de Onde Tudo Foi Morrendo (1944) ‑ livros que o autor rejeitou da sua bibliografia, ora porque se filiavam numa corrente marcadamente «neo-realista», fruto de uma época em que o autor os concebeu, ou porque não era essa, ainda, a sua expressão definitiva ‑ que Vergílio Ferreira está consciente da existência, dentro do seu espírito, de um caminho todo ele feito de reflexão, de questionação permanente, de suprema inquietação face às grandes dúvidas experimentadas pelo homem situado numa época de viragem, vivenciada pelo homem dos anos cinquenta e sessenta, marcado por uma crise existencial resultante do estado de sítio, particularmente emergente durante e pós a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Mas esse homem mantém-se praticamente igual nos nossos dias, pois as grandes questões, ou se preferirmos utilizar uma linguagem mais adequadamente vergiliana, as grandes interrogações, continuam sem resposta. E os filósofos e os artistas, quiçá profetas ou visionários, bebem, mais profundamente, os contextos epocais, as crises que a humanidade vivência em cada época da História Mundial, sempre conturbada, não obstante os curtos períodos de acalmia.
É, de facto, nos finais dos anos quarenta que assistimos à emergência de uma crise existencial em toda a Europa – sobre a qual o autor reflecte à semelhança de todos os pensadores que deram posteriormente origem à chamada corrente «Existencialista», de que o universo vergiliano também comunga, de um modo assaz peculiar – motivada sobretudo pelo massacre ocorrente durante as duas Grandes Guerras, de consequências fatais para o mundo.
A existência, a fugaz existência humana é, naturalmente, posta em causa, bem como o destino do homem no seio desse universo que obnubilou ‑ por razões políticas ou económicas, em virtude da ganância pelo poder ‑ a própria humanidade do homem; duvida-se da própria essência do humano e do sentido da Vida, face ao holocausto eminente que produz uma verdadeira revolução axiológica, desenvolvida, a maior parte das vezes, pelo lado de uma negatividade indescritível.
Assim, autores como Krierkgard, Karl Jaspers, Gabriel Marcel e, mais recentemente, Jean Paul Sartre e Heidegger ‑ embora em linhas não exactamente similares, mas ancoradas sob o mesmo pano de fundo, o sentido da existência humana – despertaram o mundo para essa crise, realmente vivida por todos, mas ainda não interiorizada, ainda não consciencializada, na sua essência, pela maioria. A corrente «Existencialista» acabou por tornar-se uma filosofia, embora em nada se assemelha-se aos sistemas filosóficos precedentes.
O «Existencialismo», como corrente que era, e, como tal, sem um sistema definido, sem um programa teórico consistente, deve ser entendido, acima de tudo, como uma atitude. É certo que é fruto de uma reflexão, mas não podemos dissociá-lo do seu carácter criador. Tratou-se de um movimento filosófico cuja base se fundamentou e materializou a partir da estética. A partir dele jamais nos foi possível dissociar a reflexão filosófica da estética literária, por mais que os actuais homens da filosofia ou da literatura digam o contrário.
Se este princípio não se observasse, a obra de Vergílio Ferreira nada diria a ninguém: seria apenas uma expressão situada, cristalizada numa época. Esse foi, de facto, o grande risco do «Neo‑Realismo», bem como das estéticas afins.
Em vez disso, Vergílio Ferreira, deixa-nos suspensos no tempo, não propriamente para nos situar estaticamente nesse tempo, mas para nos projectar no tempo futuro, de tal modo que a sua expressão jamais assume um tom definitivo. A interrogação torna-se perene, pois a interrogação, em lugar da resposta precedida pela pergunta, dá lugar a nova dúvida, mais insolúvel e de resposta mais difícil.
É certo que a experiência literária parte sempre de uma realidade concreta, vivida ou adquirida (tal como todas as filosofias); fundamenta-se numa contingência e numa problemática humanas, epocalmente determinadas.
Acontece muitas vezes que a obra centra-se num problema que diz respeito apenas a um tempo específico de ordem histórica cujas respostas que nos procura dar já não se aplicam a outro ciclo, pois a ordem histórica obedece às exigências da mutação.
A essas obras acontece-lhes um magro destino, o qual é personificado pelo silêncio e pelo esquecimento do novo homem. Não obstante, emerge a necessidade de «reajustar a justificação do homem em face dos seus próprios e irredutíveis limites»[2]
Falando em Heidegger e Sartre, ou em Jaspers e Gabriel Marcel, pensadores que de um outro modo, mesmo que o tivessem recusado, personificaram a filosofia dita Existencialista, verificamos que o centro de interesse das suas reflexões é ainda e sempre o próprio homem, o indivíduo concreto e não o cidadão anónimo.
Para Vergílio Ferreira, o pensamento existencial parece não Ter cumprido a sua própria missão: passa em salvo as questões que não interessam directamente ao homem como ser concretamente determinado, a conhecer e redimir no mundo de hoje.
Como o que importa verdadeiramente é atentar no homem concreto, o autor rejeita a ideia de Sistema pela sua inserção no domínio do abstracto. Não esqueçamos, porém, os méritos.
...

Isabel Rosete

[1] Vergílio Ferreira, Espaço do Invisível 2, p. 21.
[2] Vergílio Ferreira, Espaço do Invisível 2, p. 35.

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