"Vieira pensa, a cerveja corre, a nação vibra, os espanhóis invejam." Candidato a Belém sem conseguir as assinaturas para concorrer, o músico e pintor Manuel João Vieira entusiasma os críticos do actual panorama político com as suas declarações sarcásticas. "A Pátria é um clube de futebol que nos saiu na rifa num dia de ressaca" é uma das frases que se podem ler em Livro Rosé de Sua Santidade o Camarada Presidente Vieira (ed. Assírio e Alvim).
"Tem faltado um bom ponta-de-lança na Presidência para que este estimado público, a que presunçosamente chamamos cidadãos, se sinta estimulado a fazer o mesmo na sua vida passional e profissional. Chega de miséria sexual." Noutra passagem do livro - que é uma "recolha, selecção de textos, conspiração e edição" do artista plástico Pedro Proença - o anti-político proclama: "Isto é, serei o Presidente do Futuro! Glorioso, com pôr do sol, majorettes vindas de Braga, deusas do amor com buço louro ou um corpo militar composto por suecas dos anos 60, as dos bons tempos em que a Suécia ainda era um paraíso sexual no meio do gelo, apesar dos filmes a puxar para a angústia do injustamente quase esquecido (snif!! snif!) Ingmar Bergman."
Nada ali é poupado: "[o Estado] é uma teia regulamentada de corrupção, com ajuda dos partidos, das associações secretas e amizades mais discretas"; "[os portugueses,] quando votam, votam preferencialmente contra os filhos-da-puta dos gajos do governo"; "o parlamento é um circo"; "deveríamos ser pioneiros num tipo de legislação com intrigas amorosas e muita traição"; "a família é o grupo de pessoas que se encontram involuntariamente para trocar prendas no Natal ou que disputam uma ligação à Net"; "o sindroma Citizen Kane atravessa a nossa imprensa"; "Cristo pagava os impostos quando era necessário, mas sempre frisou a sua distância perante o poder político e religioso"; "o grande desporto regional é a gastronomia"; "um país inteiro que confia as suas decisões num Presidente da República, mesmo sendo o melhor, como é o meu caso, parece-me uma manada de naïfs".
Mestre em paradoxos, o vocalista dos Ena Pá 2000 e dos Irmãos Catita garante: "A esquerda é o passado da direita. A direita é o antepassado da esquerda. O vieirismo é o futuro óbvio do que foi a esquerda e a direita." Mas, sobretudo, é um caricaturista da classe dirigente. "Deveria haver nas universidades do Estado cursos de guionismo cómico para a carreira política. É claro que ainda temos muito que aprender com o Alberto João Jardim, mas tenho a certeza de que o seu talento inato está a ser desperdiçado na acção governativa de uma ilha demasiado pequena, ainda que populosa." "Pessoalmente nutro uma admiração geracional pelas sobrancelhas deste semideus do glorioso olimpo soviético [Álvaro Cunhal], tal como nutro uma simpatia lusitana pelas bochechas bolachu- das do seu ex-camarada e rival de sempre, o inesquecível Mário Soares."
No 22º ponto das suas linhas - programáticas, propõe-se "inverter, em primeiro lugar, o eucaliptismo preconizado por Cavaco Silva nos velhos tempos, em que havia excesso de fundos comunitários para comprar Ferraris". Depois, "disfarçar a poluição visual criada por Sócrates no domínio das suas políticas ambientais alternativas". E, entre gargalhadas, ainda se sugere um dos seus aforismos: "Os políticos ladram! Vieira ultrapassa! Vrouuuumm!!!..."
Sem comentários:
Enviar um comentário