“A Galiza e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Galiza tem aí um problema a resolver com o Estado espanhol e tem um problema a resolver também com o Estado Português que não quer ter problemas a resolver com o Estado Espanhol, evidentemente. Portanto há aqui uma triangulação política que é um pouco difícil.”
Professor Carlos Reis
Boletim da AGAL 2010
Não defendo pura e simplesmente a independência da Galiza e a sua saída de Espanha. Acredito profundamente que a “questão galega” é isso mesmo: uma questão galega, que cabe aos galegos resolverem. Em último grau, serão os galegos se querem continuar a sê-lo ou se, pelo contrário, preferem dissolver a sua nacionalidade, a sua língua, enfim, a sua própria essência na “Espanha”. A opção pela sobrevivência da Galiza não está disponível a nenhum lusófono, português, brasileiro ou timorense, existe apenas para os galegos e é aí que se deve desenvolver.
Dito isto, contudo, cumpre-me também exprimir a minha maior simpatia por todos aqueles que neste mundo globalizado e aglutinador procuram manter as suas identidades e línguas próprias, lutando frequentemente contra Golias capazes de agregarem em torno de si meios terríveis e de pisarem todos e quaisqueres limites morais. Esse é o caso de “Espanha”, dessa entidade aglutinadora erguida em torno de Madrid e que historicamente Castela sempre usou para afirmar o seu império a todos os cantos da Península de que Portugal não faz parte por mera casualidade histórica e pelo engenho e arte dos nossos antepassados…
Não ignoramos que hoje se vivem dias dramáticos na Galiza: o número de falantes da língua portuguesa da Galiza diminuiu de dia para dia e a situação é particularmente grave entre os jovens e as populações urbanas. No prazo de uma geração, a língua arrisca-se a não ser mais do que uma língua morta ou académica, sem uso útil ou extenso. Ainda é possível, contudo, reverter este ritmo descendente… a língua portuguesa da Galiza ainda é suficientemente entendida na Galiza para poder ser recuperada no espaço de uma geração, assim haja vontade política para o fazer. Este deve ser o papel crucial e insubstituível da comunidade lusófona: apoiar – sob todas as formas – aqueles que na Galiza querem falar português e fornecer-lhes meios materiais que possam sustentar esse renascimento da língua naquele local que foi historicamente o da sua matriz fundadora: a Galiza. Se depois, de a sua-nossa língua estar recuperada, os galegos – em sufrágio livre e universal – decidirem pela independência, pela federação com Espanha, pela aproximação com Portugal e o Brasil, essa já se será outra questão…
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