"...é muito pouco provável que o homem atinja algum estádio de viver fora de toda a sociedade. Quer dizer, o paraíso anarquista provavelmente seria muito bom, simplesmente parece-me impossível que uma sociedade humana chegue jamais a qualquer coisa em que não haja um poder de conexão por dentro, um poder de coordenação pelo menos. Os anarquistas têm toda a razão quando estão contra um poder de repressão, mas não parece que a tenham, ou que o Bakunine pudesse chegar a grande coisa, quando não respeita, ou parece não respeitar, pelo menos, um poder de coordenação. E não há nenhum poder de coordenação que não seja de qualquer modo algum poder de repressão. Porque isso é o mínimo. É como uma coisa que está presa por vários fios a um centro... Ou como eu posso estar em liberdade num grupo de animais que pulam e saltam numa certa liberdade, a que dou um certo raio de acção. Ou como aquelas brincadeiras das feiras em que se lançam coisas girando à volta de um mastro, para fazer com que pela força centrífuga subam alto e as pessoas tenham a sensação que vêm voando mas nunca se soltam. Ou como a força da gravitação universal. Não há nada mais livre no espaço do que a Terra voando nele."Agostinho da Silva, in Vida Conversável
2 comentários:
É evidente que todos os individualistas são estruturalmente de Direita, porém os anarquistas incluem muitos, alguns tão singulares, que tanto a Esquerda como a Direita de reivindicam deles, como é o caso do Stirner.
O Agostinho é estruturalmente um homem de Direita (não o meti no comentário lá em baixo, porque enfim LOL, já estou farto de aturar parvos esta semana), mas como detesta tudo o que é burguesismo, e foi de facto um homem de causas sociais e humanitárias, com uma noção universalista de patriotismo, em nada fundamentado na raça ou no poderio ou domínio, mas no espírito livre e, até, sacral... é impossível que o consigam meter naquele «caixote do mal absoluto» em que a Esquerda por cá gosta de enfiar tudo o que a incomoda...
É a tal «superioridade moral da Esquerda» de que já por aqui se falou...
P. S. O Agostinho, ainda que sempre que questionado fosse buscar «as luvas e as pinças», é um homem do «Estado forte», democrático, óbvio, mas um «Estado forte».
Quem não percebeu isto, é burro. Mas há muito mais burros por aí do que eu supunha... :)
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