Durante o dia, desde o momento em que o horizonte com as dunas obscuras de rocha, planas, ou as de areia, também essas obscuras, redondas - se desenhou contra o vermelho da aurora, até que se voltou a desenhar igual, contra o vermelho do pôr do sol - o deserto foi sempre o mesmo.
A sua inospitalidade não tinha senão uma forma. Isto repetia-se igual, em qualquer ponto em que os Hebreus se encontrassem, parados ou a caminho.
A cada milha, o horizonte distanciava-se uma milha: e assim, entre o olho e o horizonte, a distância nunca se alterava. O deserto cumpria as alterações do deserto: ora era um planalto de rocha, ora era uma extensão de pedregulhos (enormes e nus como nas periferias das metrópoles, com a mesma cor desbotada do aço), ora um lago de areia obscura listrada por uma infinidade de ondas caprichosas e todas iguais. Mas estavas variantes aconteciam no interior daquilo que mais não era do que o deserto, e nada mais se assemelhava senão ao deserto. E estas variantes de rocha, pedras ou areia representavam para os Hebreus o símbolo da repetição, a possibilidade de enfrentar uma monotonia que entrava nos ossos como a febre da peste. A passagem do inverso à vida repetia-se, portanto, sem ser ofuscada ou interrompida por nada. Nascia de si mesma, continuava em si mesma, e acabava em si mesma: não sujeitava o homem, ao invés, acolhia-o, inóspita mas não inimiga, contrária à sua natureza, mas profundamente semelhante à sua realidade.
Caminhando, então, por uma imensidade, que era como se permanecessem sempre parados; reencontrando, após uma milha ou após cem milhas, a mesma duna com as mesmas dobras, todas elas idênticas, desenhadas pelo vento; não reconhecendo qualquer diferença entre o horizonte setentrional e o meridional, ou entre as pequenas colinas obscuras a oriente e aquelas que se deitam a ocidente; aparecendo como igualmente gigantesco, quer no caminho adiante, quer naquele que ficara para trás; uma pequena pedra pousada sobre o perfil de uma duna, sendo que todas as torrentes, escavadas na cor árida do carvão, eram sempre a mesma torrente - a ideia da Unicidade nascia assim nos Hebreus.
Compreenderam-na no primeiro dia, depois de terem caminhado cinquenta milhas pelo deserto; foram invadidas por ela no segundo dia, depois de terem percorrido mais cinquenta milhas sem que nada se alterasse. Até que já não tinham outra ideia senão aquela.
A Unicidade do deserto era como um sonho que não deixa dormir e do qual não se pode despertar.
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